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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Cerveja e literatura - 37

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As coisas que acontecem a quem vive uma imensidão, mudando de sexo pelo meio ainda por cima:
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"Mas depois de ouvir contar vinte vezes de que modo perdera Jakes o nariz e Sukey a honra – e devemos reconhecer que eram histórias admiravelmenbte bem contadas – começou a enfastiar-se um pouco com a repetição, pois só há uma maneira de se cortar o nariz e outra de se perder a virgindade – ou pelo menos assim se afigurava a Orlando – ao passo que as artes e as ciências tinham em si uma diversidade que lhe aguçava profundamente o interesse. Por isso, embora guardando deles as melhores recordações, deixou de frequentar as cervejarias e os campos de chinquilho, arrumou no armário a capa cinzenta, deixou brilhar a estrela que trazia ao peito e cintilar no joelho a jarreteira, e apareceu de novo na corte de Jaime. Era jovem, era rico, era belo. Ninguém podia ter sido mais aclamado."
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(Virginia Woolf, Orlando - Uma biografia, tradução: Ana Luísa Faria; Relógio d´Água, Lisboa, 1924/1998, p. 26)