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sábado, 29 de setembro de 2007

Volta ao Mundo - 6

Acabo de receber mais uma crónica da volta ao mundo que a Clara e o Miguel estão a dar durante um ano. Lembro que tudo se iniciou no início de Setembro e que os dois viajantes já passaram, entretanto, por Madrid, Havana, Galapagos e, como se pode ver, pelo Equador. Boas leituras!
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"La Mitad Del Mundo
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Tinha acabado de chegar. Foi tirando com calma tudo o que guardara no saco. Um chapéu de abas largas, um guarda-chuva, um casaco comprido, um lenço, outro lenço e outro e outro. E sentou-se, como se esperasse. Passaram uns minutos. Com uma suavidade desenquadrada da paisagem vestiu o casaco, o chapéu, espalhou os lenços pelo corpo, abriu o guarda-chuva. E começou a dançar.

Pousei o café e olhei com mais atenção. Movimentos surdos diluíam-se no chão. Como os seus olhos. Não dançava para ninguém, apenas para si.
Vivo numa das cidades mais altas do mundo. Mas não tenho medo de cair. Uma vez por mês subo a Cotopaxi para não me esquecer. Deste ar que respiro, deste azul tão fundo, de que vivo na metade do mundo.
Não sei se cantava.
E foi de repente. Olhou para mim:
- Estranhas-me?
Nada. As palavras adormeciam-me na garganta.
- Não tenhas medo de mim. Só não quero ser ausente de sombra.
Disse-me.
Ausente… de sombra. Ausente… de sombra. Sabia, mas não reparara. Ao meio-dia Quito transforma-se na cidade dos homens sem sombra.
Menos a Isabela. Uma menina de quinze anos que se aumenta, que inventa pedaços de corpo apenas porque nunca quer guardar todo o sol dentro de si.

(Antes de começar esta viagem tinha uma certeza: queria escrever histórias do mundo. Sem necessidades descritivas ou de relato diário de experiência pessoal. Apenas contar uma história de alguém com outra perspectiva do que pensamos conhecer, que não fosse possível ler num guia, na Internet ou num livro de viagens. E é tão simples, não tenho que as procurar. Basta-me olhar e querer ver. O que me atraiu em Quito não foi ser Património Mundial da Humanidade, ou ser uma cidade rodeada de vulcões castanhos e azuis e brancos, ou ter um centro histórico tão bem conservado, tão colonial, tão esmagador, com tão pouco oxigénio. Foi saber o que pensa alguém que vive sem sombra)."