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sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Pré-publicações - 54

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William Blake, Cantigas da Inocência e da Experiência, tradução e introdução desta edição: Manuel Portela; Antígona, Lisboa, 2007 (Setembro).
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Pré-publicação (extracto do prefácio de Manuel Portela):
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William Blake (1757­‑1827), gravador, pintor e poeta, nasceu e morreu em Londres. Oriundo de uma família dissidente de pequenos comerciantes, as suas inclinações místicas e artísticas manifestaram­‑se desde tenra idade. Teve ainda na infância as primeiras visões de anjos. Aos dez anos, ingressou na Escola de Desenho de Henry Pars. Durante cinco anos aprendeu a técnica do desenho, mas acabaria por não seguir para a Academia de Pintura e Escultura de St. Martin’s Lane, uma das principais escolas de arte de Londres. Em 1772 foi admitido como aprendiz do gravador James Basire, trabalhando na sua oficina durante sete anos. Foi aí que começou a adquirir a mestria nas técnicas da gravura, que veio a ser o seu meio artístico predilecto. Em 1779, último ano do contrato de aprendiz, ingressou na Escola da Royal Academy (fundada em 1769), cujo currículo abrangia as disciplinas de pintura, anatomia, perspectiva e arquitectura. O contacto com o mundo artístico londrino intensificou­‑se nestes anos, tendo exposto por três vezes pinturas e desenhos na Royal Academy, mas acabaria por se dedicar sobretudo à gravura. Fez a sua primeira gravura comercial em 1780, tendo realizado ao longo da vida cerca de 580 ilustrações e gravuras para vários editores, destinadas a obras de índole diversa – livros de orações, livros de poemas, livros para crianças, narrativas de viagens, estampas artísticas, etc. –, ou por encomenda de clientes particulares. Da sua obra como ilustrador, destacam­‑se as ilustrações para os poemas L’Allegro, Il Penseroso e Paradise Regained, de John Milton, realizadas entre 1816 e 1820; os desenhos e aguarelas para o Livro de Job, realizados em1821; e o conjunto de desenhos, aguarelas e gravuras (nunca concluídos) para A Divina Comédia, de Dante, realizados entre 1824 e 1827.
O interesse na gravura reflecte­‑se numa preferência por linhas, contornos e superfícies definidas, que caracterizam também os desenhos e pinturas. A obra pictórica revela a influência da arte clássica e da arte gótica, cujas formas Blake conhecera, em certos casos, por intermédio de gravuras. Os primeiros poemas salientam­‑se pelo uso de formas métricas e estróficas regulares, às vezes de sabor arcaico. No que diz respeito à imaginação literária, são evidentes as influências das leituras da Bíblia, da literatura renascentista inglesa, das obras do poeta John Milton e da literatura mística de Jakob Böhme e Emanuel Swendenborg. Por volta de 1788 experimentou integrar textos e imagens na mesma chapa, combinando a tecnologia da impressão com a tecnologia da pintura. Desenvolve progressivamente uma técnica que vai culminar no livro impresso iluminado , forma que continuará a usar até ao fim da vida. Esta técnica resultou num dos primeiros exemplos de arte intermédia reproduzível, isto é, uma arte que é simultaneamente poética, pictórica e mecânica. Deste modo, a disposição eidética e visionária de Blake incluía a tecnologia de mediação gráfica: o acto de imaginar a imagem era igualmente o acto de tentar reproduzir, através de uma técnica mecânica, as imagens verbalizadas ou desenhadas. Esta técnica permitia­‑lhe o controle directo sobre todas as fases de produção, desde a escolha do papel até à publicação e distribuição.
Todos os livros iluminados de William Blake foram gravados, impressos, coloridos e publicados pelo autor. A aplicação da cor terá sido feita, por vezes, em colaboração com Catherine Blake. Mesmo quando a tira­-­gem impressa era de vários exemplares, o facto de cada página ser colo­rida individualmente significa que cada cópia era, de certo modo, uma edição. A variação na aplicação das cores e, em certos livros, na ordem relativa das gravuras, de exemplar para exemplar, acentua a singularidade de cada cópia­‑edição, ainda que parte das variações decorram do modo manual desta forma de trabalho e não de uma intenção de produzir variações. Em geral, a variação cromática é tanto maior quanto maior é a distância temporal entre exemplares ou grupos de exemplares, o que reflecte a evolução na execução técnica e na concepção do livro impresso iluminado. A comparação de exemplares produzidos no ano da primeira impressão com exemplares produzidos alguns anos depois, ou já nos últimos anos de vida, comprova o uso de diferentes paletas de cor ­– para alterar texturas, graus de transparência e opacidade e atmosferas gerais –, e também a omissão ou o adição de elementos ao desenho gravado original. Por outras palavras, é materialmente visível a intenção de releitura de muitas páginas dos seus próprios originais, que assim parecem incorporar a passagem do tempo na sua forma. Esta releitura autoral cria novos eixos de sentido na relação entre a matéria pictórica e a matéria linguística das gravuras, pelo que não é indiferente para o acto de interpretação da página iluminada o exemplar a partir do qual se lê.
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O Tigre
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Tigre, Tigre, brilho ardente,
Lá nas florestas da noite;
Que olho, que mão traçaria
Tua feroz simetria?
e
Em que infernos, em que céus
Arde o fogo dos teus olhos?
Que fole o pôde soprar?
Que mão tal fogo agarrar?

e
E que braço, & que arte,
Pôde o coração talhar­‑te?
E quando a bater se pôs,
Que pés terríveis? Que mãos?
e
Que martelo? E que malha?
E teu cér’bro em que fornalha?
Que bigorna, ou forças tais
Agarram garras fatais?
e
Quando as estrelas raiaram
E o céu de pranto inundaram:
Sorriu ele ao ver­‑te inteiro?
Quem te fez, fez o Cordeiro?
e
Tigre, Tigre, brilho ardente,
Lá nas florestas da noite:
Que olho, que mão traçaria
Tua feroz simetria?
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