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Li ontem de um só jorro, no meio do (peso do) último Roth, o romance Ravel de Jean Echenoz (aposta da Sextante pré-publicada, há um mês, pelo Miniscente). Nove breves capítulos escritos no osso - enfim, um requintado osso francês - com as viagens, as divagações interiores e a assunção de um destino solitário a flutuarem até ao limiar da tragédia (o final concorda em género e número com o Everyman de Roth). Interessante combinação do biográfico - de facto, o romance cobre os últimos dez anos da vida do autor de La Valse - com uma arquitectura simples que não deixa habilmente de ceder ao efabulátório. Se há livros de Verão, evocadores de um tempo ingenuamente heróico e aventuroso, este é um deles. Curto, bem entrecortado e sem as marcações de uma dança excessivamente geométrica. Um bom leitor faria - e fará - como Mourinho: tomará notas ao longo do jogo que a leitura propicia. De resto, passei o serão de Domingo, claro, a ouvir Ravel e a imaginar infundadamente. Mais do que consolação é a isso que a boa literatura apela: ao infundado das imagens que nos percorrem o desejo de termos, um dia, sido Ravel.