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segunda-feira, 4 de junho de 2007

Pré-publicações - 34

Jean Echenoz, Ravel, (traduzido do francês por Armando Silva Carvalho), Sextante Editora, Lisboa, 2007 (Junho).
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Pré-publicação:
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"Sair do banho às vezes não é fácil. Em primeiro lugar, custa abandonar a água morna e cheia de sabão, onde se formam bolhas presas aos cabelos perdidos no meio das células de pele friccionada, e enfrentar o ar frio e brutal duma casa mal aquecida. E a seguir, mesmo esquecendo o tamanho que se tem e a altura a que se ergue essa banheira com os seus pés de ave de rapina, é sempre difícil saltar por cima do rebordo e conseguir alcançar, procurado a custo com o dedo grande do pé, o chão ladrilhado do quarto de banho. Convém actuar com prudência para não aleijar o entrepernas, ou correr o risco de escorregar e dar um trambolhão. A solução para esta dificuldade seria certamente mandar fazer uma banheira à medida, mas isso significa despesas, talvez ainda maiores que o custo da instalação do aquecimento central, que continua a não ser suficiente, apesar de instalado há pouco tempo. Seria bem melhor permanecer, assim, dentro de água até ao pescoço, horas e horas, para não dizer para sempre, accionando a torneira com o pé direito, por intermitências, e deixar entrar de vez em quando um pouco de água quente, regulando o termóstato, mantendo uma boa atmosfera amniótica.
Mas a coisa não pode durar mais, como sempre o tempo não pára, daqui a menos de uma hora Hélène Jourdan-Morhange vai aparecer. Ravel é obrigado a sair da banheira e, depois de se secar, enfia um roupão de um tom pérola refinado, lava os dentes com a escova articulada, barbeia-se sem omitir um pêlo que seja, penteia-se sem descurar o depurado risco, depila uma sobrancelha onde durante a noite um pêlo teve a ousadia de crescer como uma antena. Em seguida, colocando em cima do toucador um estojo de mãos, de luxo, feito de carneira de primeira escolha num tom de pele de lagarto e acolchoado em cetim, no meio de escovas de cabelo, pentes de marfim, e frascos de perfume, aproveita as unhas amolecidas pela água quente para as cortar sem dor, e pelo tamanho devido. Pela janela do quarto de banho esteticamente arrumado, lança um olhar para o jardim a preto e branco, sob as árvores despidas, a relva cortada está morta, e o jacto de água paralisado pelo gelo. É um dos últimos dias de 1927, e é ainda cedo. Depois de ter dormido pouco e mal, Ravel está de mau humor como todas as manhãs, sem sequer saber o que vestir, o que agrava a má disposição."
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Actualização das editoras que integram o projecto de pré-publicações do Miniscente: A Esfera das Letras, Antígona, Ariadne, Bizâncio, Campo das Letras, Colibri, Guerra e Paz, Livro do Dia, Magna Editora, Magnólia, Mareantes, Publicações Europa-América, Quasi, Presença, Sextante Editora e Vercial.