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terça-feira, 22 de maio de 2007

Escavações Contemporâneas - 14


LC
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O sorriso do arquivo no tempo da rede
(hoje: Fernando Ilharco)

A Dissuasão da Informação (I) - 21/07/1997
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O nuclear já tem sucessor. Para variar é a informação. Na politica internacional, a dissuasão baseada na capacidade de destruir os outros (nuclear) está a ser substituída pela capacidade de evitar que os outros nos destruam (informação).
Alvin Toffler avisa em várias das suas obras que "a forma como se faz a guerra reflecte a forma como se cria riqueza". Ou seja a tecnologia mais avançada de que cada grupo, região ou país dispõe é a utilizada para criar o futuro: gerar riqueza, manter o poder e elevar a dissuasão sobre os "diferentes".
A ameaça da recolha dos benefícios das novas tecnologias, e a capacidade para o fazer, ditou para já o fim de um império mundial: a União Soviética. A "guerra da estrelas" de Ronald Reagan foi o projecto que levou a URSS a assumir uma derrota estratégica. Na Islândia em Reyckiavick, em 1986, Gorbatchev despediu-se de Reagan dizendo "podia ter dito não". Era do projecto "guerra das estrelas" que estavam a falar. Esse projecto ilustra a nova natureza do poder e as características revolucionárias da nova tecnologia.
A "guerra das estrelas" visava tornar impossível a penetração de qualquer míssil no espaço aéreo dos EUA, um objectivo alcançado com tecnologias de informação. Um sistema de satélites, radares, etc. manteria em vigilância permanente os céus dos EUA, da URSS, e as respectivas bases de mísseis e mais umas quantas zonas criticas um pouco por todo o mundo. A tecnologia teria a capacidade de detectar todo e qualquer míssil que se dirigisse para os EUA, accionando automaticamente mecanismos de resposta (mísseis anti-misseis, "lasers" a partir do espaço, etc.). A ideia era boa e deitava por terra o pressuposto mais fundo da era nuclear: a doutrina da destruição mútua assegurada. Os EUA tinham competência e capacidade para a colocar em prática. A URSS não tinha.
Basta ver o que está a acontecer neste preciso momento no espaço. A América envia de Marte para a Internet as mais espantosas imagens sobre o planeta vermelho. No espaço, a MIR do ex-império vermelho está à beira de se tornar o tumulo dos seus cosmonautas, porque entre outras coisas, um deles "desligou a ficha errada e toda a nave ficou sem energia" !? ... Foram coisas como esta que desequilibraram o jogo. O decorrer do tempo faria – como fez – o resto.
O conceito e a capacidade mudaram o mundo. Este é ponto critico na utilização de toda a tecnologia. Mais do que o último grito da tecnologia, praticamente à disposição de todos, a derradeira vantagem está na forma como a utilizamos. Não se trata se uma questão de imaginação ou de inspiração, mas de transpiração, de treino, de inteligência e de tempo. O General Van Riper, dos Marines dos EUA, referiu em Abril passado num encontro do United States Institute for Peace, em Washington, que "o determinante é a importância dos conceitos subjacentes à tecnologia, bem como o contexto histórico e cultural em que a tecnologia é disponibilizada". Por exemplo "em 1939, todos tinham a tecnologia, mas os alemães tinham os conceitos. De facto, o exército alemão era mais pequeno do que a sua oposição, mas era dotado de superiores conceitos na utilização da tecnologia, o que lhes permitiu uma posição de superioridade". Atente-se na forma como os alemães organizaram o seu exército "à volta" do conceito do tanque (panzer), não se limitando a adicionar tanques ao anterior conceito de exército.
A Guerra do Golfo reflectiu de forma brutal o choque de duas civilizações tecnológicas. A dos modelos industriais, da quantidade, de massas e da força bruta (Iraque), e a dos modelos da nova tecnologia, da qualidade, do conhecimento, da precisão e do detalhe (EUA).
Pouco depois desse embate, o golpe pró-comunista na URSS falhou. E a informação esteve de novo no centro dos acontecimentos. A história é certamente muito longa e recheada de segredos, mas entre outras coisas é interessante referir uma conversa entre Peter Schwartz e Alvin Toffler, publicada na "Wired" há 4 anos. Referiu Schwartz: “Em 1987, em conversa com Vellakoff, conselheiro de Gorbatchev para a ciência, ele disse-me que a prioridade das prioridades era colocar o maior número possível de antenas de satélite por toda a União Soviética, para quando o "inevitável golpe" chegasse Moscovo não pudesse controlar o espectro radioeléctrico. Foi precisamente o que aconteceu. No dia do golpe, eles correram para a sede da televisão, mas já nada disso interessava. Toda a gente podia ter acesso à CNN!”
Em Belgrado, numa história cuja primeira parte terminou já este ano, sucedeu o mesmo. Como é possível manter uma manifestação anti-governamental, anti-militar, anti-policia na rua durante seis meses a fio? A resposta é esta: com a atenção da CNN e com a Internet! Ao fim de duas semanas de protestos nas ruas, Milosevic, que se recusava a aceitar os resultados das eleições locais, decidiu silenciar a rádio B92, que coordenava os manifestantes. Mas os B92s não se foram abaixo. Agarraram-se a um telefone (e na Jugoslávia há muitos ...), ligaram-se à Internet e continuaram a dizer o que queriam... para a Holanda! Aí, a BBC e a Voz da América reenviavam o sinal para a Sérvia. Melhor e mais barato! Tal é o lema da Mars Pathfinder e do século XXI!
Dos modelos político-económicos construídos sobre o pressuposto de que a informação relevante é difícil, morosa e cara de obter, estamos a passar modelos baseados no pressuposto inverso. Contudo o overload de informação exige estratégias complexas, capazes de cortar a direito na ambiguidade. "A questão decisiva quanto ao tipo e ao grau das ameaças, e a base da cooperação, é agora a capacidade de cortar a direito nessa ambiguidade" (Joseph Nye, Jr., William Owens, "America's Information Edge", "Foreign Affairs", Março/Abril, 96).
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Segundas - João Pereira Coutinho
Terças - Fernando Ilharco
Quartas - Viriato Soromenho Marques
Quintas - Bragança de Miranda
Sextas - Paulo Tunhas
Sábados – António Quadros (António M. Ferro, Org.)