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Suponhamos que, por encomenda de uma revista, me via hoje subitamente a escrever um conto. E, de repente, as ideias avolumar-se-iam: um recém-doutorado em Badajoz - já agora em comunicação (diferidamente na moda, por isso um tanto paródico) - é chamado a reitor de uma instituição pomposa, embora em claro estado apocalíptico. O personagem é naturalmente funcionário do estado, ou território adjacente (estamos em Portugal), para além de deputado municipal de uma inesperadíssima força política (BE ou um qualquer PRD a inventar). Além disso, detém um ar seráfico acima de qualquer suspeita e é aprendiz daquele sorrisso que os bispos ostentam sempre que se fala - entre outras coisas - na programação da RFM ou nos orçamentos de Fátima. E tudo se passa na hora que precede o anúncio, por parte do Ministro do Ensino Superior, da viabilização, ou não, da tal instituição pomposa. O cenário deste tudo ou nada é um quarto desarrumado, onde o protagonista divide a sua atenção entre o ecrã da televisão e a espera de alguém que nunca mais vem. São quase seis da tarde. Sobre a cama, o fato está dobradinho e pronto. Em caso de luz verde, o professor doutor (por extenso) seguirá em direcção a Lisboa oriental para se fazer ver sob holofotes de ouro. Entretanto, fica a pergunta lá muito ao fundo da narração: por quem esperaria o nosso herói? Aceitam-se hipóteses.