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Fui ver a exposição da Colecção Berardo que está neste momento na Galeria do DN, na Av. da Liberdade. Gostei de rever os sinais da Pop e as fotos do Andy Warhol (sobretudo a de Truman Capote e a de Kissinger abraçado a Elisabeth Taylor). Mas houve um trabalho que me tocou de modo muito particular. Trata-se de uma obra do João Palolo (o nome artístico era "António Palolo") do ano de 1969, sem título, e que resulta de uma "técnica mista" sobre papel, tal como é referido na sinalética da exposição e no próprio catálogo. De facto, essa enigmática "técnica mista" é-me, neste caso, muito familiar.
Eu explico: lembro-me de no Verão de 1972 - tinha eu quase dezoito anos - aparecer no ateliê do João com vários amigos, entre eles outro futuro pintor e performer: o José de Carvalho (hoje, infelizmente, tal como o Palolo, já falecido). O ambiente naquele espaço era então no mínimo exuberante. Um dia, o João chegou ao pé de mim e perguntou-me: "Queres aprender uma coisa?" e eu, na minha timidez explosiva da época, terei dito que sim. Depois, ele limitou-se a ilustrar o modo como o éter fazia e faz milagres sempre que o espalhamos com força (com um algodão) sobre uma página de revista colorida - lembro-me que era francesa - sobreposta, por sua vez, a uma cartolina branca. O resultado é a passagem das imagens para a cartolina com um efeito de alguma sugestiva diluição. Esta técnica abria-se, portanto, a muitas possibilidades e, naquele tempo, tornava-se permeável à ideia de colagem e também de puzzle imediato com os objectos do quotidiano. Lembro-me de ter vendido na estação do Metro do Rossio (em frente à Suíça), nesse Verão de 1972, alguns desenhos desse género (e creio ainda ter algum cá em casa).
Ora, a obra agora exposta da autoria de António Palolo, e que consta da Colecção Berardo, é precisamente desse tipo, embora nela convivam outros elementos, tais como a imagem de um urinol sobre fundo vermelho e ainda um leve horizonte tricolor, ambos na parte de cima.