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quarta-feira, 8 de março de 2006

Ninguém tira a esperança ao Benfica

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Tal como os fãs do Everton por lá, também alguns pardos azuis de cá anseiam pela via perversa (a vida não teria tanta graça se assim não fosse). A ameaça de incêndio - e de bomba - e a lesão de Petit já ninguém lhes tira: um e outro factos terão sido uma espécie de aperitivo matinal para gaúdio próprio. No entanto, confesso que não sendo o Liverpool de hoje um Mónaco ou uma Lazio de ontem, sei que tudo pode acontecer. O que já não é nada mau.
Depois da frenética travessia do deserto - esse "fantasma" de boa parte dos nineties (e que teve o seu assumido clímax em Vigo) -, aprendi que uma grande equipa se caracteriza por saber lidar com a expectativa da derrota como se fosse sempre a de uma vitória, ou seja: sem aquela euforia nova-rica de quem começou a vencer há pouco tempo, sem disforia também, mas sobretudo sem a aparente máscara carnavalesca da invencibilidade (o antigo e paroquial "Complexo de Meirim" - os mais velhos lembram-se).
O grande Clube (com "C" grande) será sempre uma questão de arrojo e de mito, é certo. Mas de nada valerá a história e a marca, se a crença e o trabalho árduo sobre o relvado forem a sombra do "fantasma" e não o reflexo do risco e das expectativas em aberto. Curiosamente, os jogadores do Liverpool já mudaram o tom das suas declarações: antes do jogo da Luz, viam no Benfica a mera sombra do "fantasma", mas agora passaram subitamente a respeitar o Benfica e a entrever na sua atitude sinais de risco. Por outras palavras: reconhecem que está tudo em aberto.
Sinceramente, gostaria apenas que Benitez dissesse no final da eliminatória o que Adriaanse foi levado a dizer - com franqueza - na última vez que foi derrotado pelo Benfica: "Mais agressividade, mais organização, mais...". Vai ser muito difícil. Mas estamos cá para acreditar. Seja qual for o desfecho. Aliás, a luta romântica "pela camisola", que era própria do discurso do futebol há trinta ou quarenta anos, equivale hoje essencialmente à partilha do factor surpresa (saber surpreender os poderes do futebol: as grandes empresas, os passes caros e galácticos, a conjura instalada, as arbitragens em certos estádios e as apostas irrefutáveis).