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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

UM AMOR CATALÃO
Folhetim à moda clássica
TERCEIRO EPISÓDIO
(A jarra cristalina e a perdição dos olhares)

Albe olha-se, pela última vez, ao espelho, fecha a porta do quarto, entra no elevador e desce até à sala dos pequenos almoços.
Estamos na alvorada do mundo, pensa Albe sem o saber, sem mesmo o dizer.

A porta do elevador abriu-se e Albe saiu finalmente.

Na sua frente, Edmundo cristalizado e persuadido, há séculos, pelas folhas do jornal que estão abertas, ou desfolhadas, como a rosa imaginada pela doce francesa que, após breve indecisão, o surpreende, o paralisa, o interrompe.

Para sempre.
E Edmundo já de pé, sentado, de pé, com o jornal a enrolar-se na mesa oval e Albe a dizer que dormiu bem - Olá, desde ontem, - Quanto tempo fica aqui ? - Sim, que eu também gosto de me levantar cedo, - Estuda ou trabalha, gosta de chocolates ? - e Albe a dizer que é jurista, advogada, há um mês apenas que acabou o curso.
Vocação ?
Eu ?
Talvez.

Que é o mundo, senão um estranho cruzamento de vocações, de propensões, de chamamentos, de predestinações, de. Edmundo com o lenço branco na mão e o pijama arrastado e não menos branco de Albe; uma mesma mancha solar a soltar-se e a voz, já menos seca, a cimentar o seu lugar, o seu timbre; e o tom, por fim, a ancorar no olhar, dentro do olhar.

- Quem és tu, afinal ? - Em que varanda estarias tu, afinal ? - trocam-se sigilos, tempestades e, por trás, a jarra continua cristalina, alta e envidraçada, uma imensa vocação de transparência sem nome.

(No próximo episódio entrará em cena um antigo amigo de infância de Edmundo. Histórias antigas que irão bater à porta desta novíssima e ainda esfumada que retira a voz à própria voz de Albe e de Edmundo)

Continua

(publicação simultânea da versão matricial em Inglês no blogue Minion)