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quinta-feira, 12 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata - 8


(Animal Locomotion: Leaping Man , Eadweard Muybridge, 1887)

Sonhar ser máquina. Ao contrário da fixidez fotográfica que mobiliza o olhar para um desencontrado movimento de montagem, Muybridge entendeu o grande ardil, ou o ambicionado logro: colocar no lado de fora da mente uma simulação do próprio filme do cérebro, adequando a retina aos ritmos mais insuspeitos da natureza. E de repente a montagem parecia uma coisa natural. Mas não era. Passava o ano de 1921 e Griffith sorria, enquanto apertava a mão ao jovem Gance, em Nova Iorque, um dia depois da apresentação de J´accuse. Nessa altura já o cinema passara claramente a adolescência e as aventuras de Muybridge eram candidatas ao museu da nova indústria. Onde tudo se fabricava. A matéria-prima, no entanto, continuava a ser a mesma dos inícios, a luz. E com a luz se deu à máquina o poder da súplica e o halo da transpiração. Sonhar ser máquina, ou reaver uma segunda humanidade nos súbitos movimentos com que a sombra e a luz ganhavam corpo. Imagine-se, pois, o abalo e a comoção que hão-de ter povoado a pioneira efabulação de Muybridge!