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quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata -7


(Bailarina transportando ovos, Paul Nadar, 1890)

Naquele tempo, o longe ainda queria dizer deslumbramento. O exotismo correspondia então ao que hoje é a ideia de património, mas sem a compressão que o vai tornando entre nós, cada vez mais, num estado absoluto e idiotamente intangível. O exótico romântico era o que perdurava nos outros hemisférios, em parte incerta, no antípoda que atrai e mais perdura na imaginação. E por isso, hoje, sorrimos diante do exótico. Porque temos a febril e leviana sensação de que já explorámos tudo, de que nada parece escapar-nos, de que tudo é miragem vista e revista. Iludida ou compreendida, tanto faz. É por essa mesma razão que o recente fluxo de imagens vindo de Marte se tornou rapidamente num esboço da mais pura banalização. Mas Nadar atravessou outro mundo e fez profissão de fé nesta dança exemplar onde os ovos não são sequer símbolo de fertilidade. Nem precisavam sê-lo.