Pretenders
Pretender apenas conservar a sucessão e a sensação fugaz do que é transitório. Pretender apenas fazer perdurar o efémero (pixels, imagens voláteis, a consciência alargada redimindo-se da sua cansativa montagem secular). Pretender apenas, por outras palavras, fruir e gozar a plenos pulmões aquilo que são manifestações claras da crise do sentido que afecta o nosso tempo.
Estas pretensões são afinal tão óbvias quanto desejar que tudo voltasse sempre ao mesmo, para que, desse modo, se pudesse entender com alguma estabilidade o que está - ou o que estaria - a passar-se à nossa volta. Estas pretensões são afinal tão óbvias quanto desejar tocar no vácuo e arejar a mente ilimitadamente com a ilusão de que a vida é um boomerang sucessivo de ilusões (imaginar que isto é tudo imaginação fragmentada, posta a circular sem norte, adiada para sempre). Estas pretensões são o reviver da graça divina medieval, agora sob a forma de chips, clones, lasers, hologramas, cyborgs e outros, muitos, gafanhotos imateriais.
Signs of our times.