Febre
Dia de febre pode ser dia de boa sina. Arrepios, sonhos hiperbólicos e calor em excesso. De manhã, o corpo aparece cansado, ludibriado pela alteração inesperada e subitamente disposto ao descanso e ao distender mais inabituais. E eis-me, ao longo deste Sábado de Março, recostado no sofá a ver canais enlatados da TV Cabo e sem forças para mais. Pelo Canal História fico a saber que Nixon, no ano em que perdeu para JFK, insistiu em não se maquilhar antes dos directos pois isso era coisa de “gays”. Pelo People and Arts, fico a saber que a cidade do México se afundou, no século XX, cerca de nove metros (18 vezes mais do que Veneza). Causas: exploração desmesurada dos lençóis de água subterrâneos e secagem abrupta dos lagos onde, em poucas décadas, a mancha urbana se foi implantando de forma feroz e brutal. Faz lembrar a tragédia criminosa do Mar Aral, essa da responsabilidade da antiga URSS. Depois, durmo e volto a acordar enquanto os telejornais trocam e truncam as suas e as nossas ficcionalidades. Mais bombásticas as da TVI, sentenciosas as da SIC, de plinto as da RTP. Passam algumas horas, vejo-me a fechar a televisão e torno a tomar aspirinas, pastilhas para a garganta e vitaminas tardias. Um pouco tonto, com a memória revolta e o ar da casa tão quente como as dunas do desejado Verão. Dia de febre pode ser dia fiche. Hoje foi um deles. Blog fever.