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quarta-feira, 10 de março de 2004

Coro

Em todas as escritas existe uma solidão que se assemelha a um certo abuso de presença. Escreve-se, inscreve-se, marca-se o campo e o que vai aparecendo vale pela sua própria comparência, a dos convocados, mas nunca faz esquecer a magia dos suplentes. E o olhar de quem lê, incluindo o olhar daquele que escreve, fica súbita e involuntariamente solto e hesitante. Parece saltar de um lado para o outro, como num agitado jogo de ténis, à procura daquilo que, ao mesmo tempo, aparece e desaparece. Ou seja, do que comparece e é legível e do que permanece desaparecido, embora aflitivamente audível sob a forma de coro grego, neste espectáculo solitário - e às vezes deslumbrante - que é a escrita e a leitura.