Voando sobre um ninho de angústias
Há dias em que entro numa livraria, olho para as novidades e não tenho vontade de comprar, nem de ler. São livros referenciados, são obras de que li críticas, são nomes que conheço, são ficções que me poderiam atrair profundamente. Mas não me apetece comprar, nem ler. Há um momento em que saio da livraria e vou em frente como se a miríade de ralos que canta em Atenas, de manhã à noite, jamais me saísse da cabeça. Olho para o fundo da rua, encaro o estranho alinhamento dos choupos e observo as frontarias das casas que quase ousam tocar no céu. É esse outro livro que então me convoca. Um livro de vistas onde a errância do olhar cria a sua própria felicidade alfabética. Entendo o sortilégio e sorrio. Afinal, não é preciso ler todas as páginas que nos rodeiam. Essa angústia já a superei há muito, muito tempo.