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quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

A ficcionalidade onanista

Aí está um (fortíssimo) tabu que raramente me lembro de ver tratado literariamente com algum fôlego: a imaginação onanista, ou mesmo, como se escreve no Avatares de Um Desejo, a sua narratividade (embora eu pense que se trata mais de sequências narrativas muito breves, sobrepostas por bastante e desalmada descrição). Não sejamos ingénuos ao ponto de considerarmos o onanismo como uma simples experiência da memória adolescente (lembro-me de, na Balada da Praia dos Cães, o inspector da Judiciária, já maduro como os figos, se masturbar, mas algo desinserido da ficcionalidade que desenha a homophysis desse prazer efémero e solitário). Creio que existe mesmo um subtetxo muito culturalizado que arrasa este tipo de reflexão e ponderação (com a excepção da aridez estatístico-verbal dos psicólogos), pressentido até no léxico utilizado: onanismo em vez de masturbação e masturbação em vez do vocabulário mais providencialmente Pipi. Seria, contudo, interessante perguntar à blogosfera, se existe uma flagrante diferença na ficcionalidade (onanista) feminina e masculina; se esta ficcionalidade é mais esteticizada e autotélica (isto é, se cria o seu próprio mundo ainda que filtrando o mundo da experiência), ou mais ancorada referencialmente (isto é, se baseada em quadros conhecidos e vividos). É uma questão em aberto e que, ao retomá-la, espero ver discorrida. Que os blogues ocupem as margens abandonadas pela tematização culturalizada!