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sexta-feira, 8 de agosto de 2003

Ontem admirava-me com o número de visitantes do primeiro dia de contador, quando, hoje, doze horas após esse dia D, o número já triplica, de modo desvairado ! Começo a entender tanta visita, dada natural generosidade dos cibercaminhantes. Mas não só, associo o facto, também, à época e, portanto, a todo esse leque de praias impossíveis de frequentar e de olhar, onde cada milímetro quadrado de areia é (ou será) disputado feericamente, do mesmo modo que, nas narrativas apocalípticas judaicas, se disputava o ar dos ceús que era, afinal, a via da habitual viagem que conduzia o herdeiro da figura de profeta a deus. Por todas essas razões, vou deixar de lado o número de visitantes como tema.

Hoje é dia para reiniciar a escrita do novo romance. Já aqui falei disso ante-ontem. Geralmente, neste tipo de dias, vejo-me involuntariamente a adiar o momento das hostilidades. Faço tudo, mas tudo, antes de me sentar... to do it. É como se quisesse encomendar todos os espíritos possíveis até à última hora. Inventam-se tarefas que não lembram a ninguém: ir depositar um cheque (magrinho) que está pousado na mesa há seis dias, ir comprar uma caixa de iogurtes ao super mais próximo, passar pela oficina e perguntar pelo estado dos pneus, arrumar jornais, levar o lixo ao contentor, empilhar papelada do ano lectivo já acabado, enfim, seja o que for, pequenos gestos, breves notícias criadas por actos menores, impulsivos, sucessivos, irrespondíveis. Até que. Até sempre. Até porque nunca se verifica aquela decisão A que leva o sujeito Y a iniciar o acto B na hora W. Existe sempre de permeio uma indecibilidade que subsume a corrente vital, uma simultaneidade que invade a vontade e a torna numa potencialidade dividida, ao mesmo tempo, entre vários agoras e um depois que funciona com hímen (do Himeneu), como leitmotiv e como presságio de que algo importante poderá estar para a vir a ser.

Gostei de dialogar com o RAE (a sigla confirma o anonimato que faz lembrar o flaneur baudelaireano, embora inserido em tramas campeadoras tipo medieval, para as quais a crónica era geralmente anónima) e com o Prazer Inculto. Há também densidade e muita criatividade neste meio blogalizado. Vai havendo de tudo, à imagem das imagens com que desdobramos cada imagem que exprimimos.