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Eu acho normalíssimo que a Fernanda Câncio diga o que diz. O que são os limites da deontologia e o que são as declarações de interesse, quando o que está em causa é o que há de mais fundamental na vida? Não pode aceitar-se o que alguém diz na condição, ao mesmo tempo de jornalista, de inquiridora de uma verdade e também de apaixonada? Ou ter-se-á sempre que segmentar e adequar cada uma das funções a um discurso, a um modo de dizer e a uma declaração de interesse específica? Curiosamente, quando a questão saltou das modalidades comunicacionais mais imediatas e actuais (blogues ou twitter) para os jornais, logo Fernanda Câncio foi tratada por “namorada do primeiro-ministro” e não pelo seu nome. Sintomático. Como se ser “namorada” esvaziasse o que se é e como se a evidência de uma ligação correspondesse tão-só a uma banalidade, ou a algo à parte da pessoa que se é (da Fernanda que é Câncio). Todos adoramos os mitos do amor eterno – os túmulos de Alcobaça, Sá Carneiro e Snu ou até, para os mais distraídos, a francesinha de Salazar –, mas quando o frisson não tem distância de mito, embora altere o sentido de fundo, logo a ‘coisa’ desperta terríveis abalroamentos. Como se uma letargia a saber a ciúme obrigasse a ré a separar a máscara de colunista da de jornalista. Como se a boca não fosse a mesma que diz. O que estará por dizer. Com a sua urgência própria. Não dou uma rosa a Fernanda Câncio, mas dou-lhe uma ameixoeria em flor. Chega?