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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Risos - 6

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O cómico e o trágico nem sempre se opõem. Bem pelo contrário. O início de Caramanchão, um dos contos de Raymond Carver que integra o seu livro De que falamos quando falamos de amor, é uma espécie de vaivém entre o devaneio sexual e um inexplicável aceno noir que ilustra bem essa curiosa confluência:
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“Nessa manhã, ela despeja uísque Teacher sobre a minha barriga e lambe-o todo. À tarde, tenta atirar-se pela janela”.
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O segundo período aparece realmente de modo inesperado. De tal modo que a regra nem se chega a expor ou a ocultar, tal como acontecia na antiga tradição délfica. À pergunta “por que se atira Holly pela janela?”, corresponderão sempre mil possibilidades em aberto. Ao fim e ao cabo, após a leitura do conto, constatamos que o caso está longe de qualquer cenário mais verosímil.
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(Raymond Carver, De que falamos quando falamos de amor, Teorema, Lisboa, 1974/1987, p. 23).