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quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Cerveja e literatura - 61

Acabei de escrever o que viria a ser o meu primeiro romance no mês de Dezembro de 1982 (há um quarto de século precisamente). Lembro-me que num desses dias frios, quando passeava junto à margem de um canal (vivia então em Amesterdão), dei comigo a descobrir vários objectos no fundo das águas. Eram bicicletas, bacias, mangueiras e até um manequim. Esta visão translúcida valeu-me a escrita dos inícios desse meu (ilegível) primeiro romance. Ainda não existiam computadores e, por isso mesmo, eu punha-me a cortar com a tesoura o texto entretanto escrito em folhas improvisadas, para depois colar as tiras com fita-cola. Um verdadeiro Dziga Vertov, embora livre, à procura da secreta lucubração e montagem do seu discurso. E pelo meio havia muita cerveja. E da boa. Sobretudo belga. Vem esta rememoração a propósito da citação de hoje que é de Bukowsky e que me foi sugerida pelo António Manuel Venda:
e
«Debatia-me com o meu primeiro romance. Todas as noites, enquanto escrevia, esvaziava meia garrafa de whisky e duas embalagens de cervejas.»
e
(Charles Bukowsky, Mulheres; original: Women, 1978; tradução: Fernando Luís, Dom Quixote/FNAC, Lisboa, 2001, pp. 10/11)