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domingo, 7 de outubro de 2007

Cerveja e literatura - 23

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A Ignorância de Kundera põe em jogo dois checos que, depois do fim do comunismo, procuram em vão a mitologia do Nostos, ou seja, da cruel miragem de um regresso dourado. Tudo o que reencontram acaba sempre por ser estranho: mundos abismados, admirados, imaginariamente ingratos. E eis como a cerveja, de modo provocatório, simbólico e telúrico surge em cena com um dos marcos dessa embaraçosa relação de amor e ódio:
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“- O almoço é contigo, o vinho comigo! – Vê na carta alguns vinhos franceses e escolhe um: - o vinho é para mim uma questão de honra. Não percebem nada de vinho, os nossos compatriotas, e tu, embrutecido pela tua Escandinávia bárbara, percebes ainda menos.
Conta-lhes como as amigas se recusaram a beber o Bordeaux que ela lhes levara:
- Imagina, um milésimo de 1985! E elas, de propósito, para me darem uma lição de patriotismo, beberam cerveja! A seguir tiveram pena de mim e, já bêbadas de cerveja, continuaram com o vinho!
Conta-lhe, tem graça, riem.
O pior era que me falavam de coisas e de pessoas das quais eu não sabia nada.”
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(Milan Kundera, A Ignorância, tradução: Miguel Serras Pereira; Edições Asa, Porto, pp. 159/160)