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sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Cerveja e literatura - 5

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Foi neste escritório que o vi pela última vez. Com aquela prancheta inundada de traços, riscos e manchas onde escrevia. Lembro-me da sua voz e do humor que se desprendia do edifício aparentemente austero. E parece que o imagino no final da década em que nasci, a de cinquenta, a medir forças com a sua intensa e duradoura estadia de Évora. No final do mais emblemático dos seus romances, Aparição, com o enredo já praticamente resolvido (à excepção da morte de Sofia), a Feira de S. João merece um testemunho descritivo derradeiro e solar. O reitor do liceu é então focado, no centro da sua última ceia, ou cena, ao modo de uma despedida e simultânea evocação:
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"Eis-te aí, bom reitor, com amigos que eu não sei, a uma mesa da esplanada, cheia de canecas vazias de cerveja, como um pólipo de ventosas... Saúdas-me risonho, o lábio grosso, a face injectada de boa disposição. O verão era a tua hora de grandes libações, lembro-me de no "café" te ver com frequência bebendo uma tarde inteira, enchendo a mesa de vidros que mandavas retirar para não publicares a tua sede."
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(Vergílio Ferreira, Aparição, Portugália Editora, Lisboa, 1960, p.260)