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sábado, 30 de junho de 2007

Touradas e copinhos de leite - 2 (act.)

e
Amigo Bruno: não é com o sofrimento do touro que os movimentos anti-touradas se preocupam. Se fosse, fariam manifestações à porta dos matadouros e não comeriam carne. A própria ostensão do sofrimento e da violência nas arenas está longe de ser um argumento convincente, na medida em que constitui uma gotícula de orvalho no meio do fluxo mundializado de imagens (que nos entra diariamente pelo olhos e pelo corpo com desmedido apetite sanguinolento). O que mobiliza esses movimentos é o preenchimento de vazios que têm a sua origem na diluição de um 'mundo de causas', tal como o entendemos ao longo dos dois últimos séculos e meio. Nem é, pois, o apelo a uma utopia meramente defensiva (caso do ambiente, por exemplo) que estará aqui em questão. O que mobiliza a maior parte dos jovens genuínos anti-touradas é sobretudo uma reavaliação da ideia de barbárie que exclui do novo perímetro "civilizado" tudo o que não for minimamente sintético, ou da ordem do fetiche cénico e simulado (que é o que os alimenta, reveste, imagina, respira, pensa e habita). Para estes movimentos, a realidade pode ser bárbara - sem quaisquer limites - desde que o sangue aconteça do outro lado do ecrã. Para estes movimentos, os ritos deixaram de actualizar os mitos; em vez daqueles preferem a repetição pela repetição que apenas acaba por actualizar a própria actualidade mais imediata, embora sempre protegida pelas suas mediações plásticas (muito correctas). A safe and untastly world. É ou não é?