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O sorriso do arquivo no tempo da rede
O sorriso do arquivo no tempo da rede
(hoje: António Quadros - António M. Ferro, Org.)
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Mito e Utopia*
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(…)o mito do regresso ao Paraíso, poetado entre nós por Teixeira de Pascoais, atravessa desde o orfismo vários tempos, civilizações e mesmo religiões, transposto em diversas línguas, com diferentes imagens e personagens, mas articulando-se sempre à apetência dinâmica numa relação vivaz de ideal e real. É um mito que, constituindo-se revelação sobrenatural acerca de princípio e fim, exprimindo a possibilidade maravilhosa de génese e redenção constantemente se coaduna ao meio, que é o homem. Entre o Deus, dimanante da génese e o Deus absorvente da redenção, situa-se o homem viandante. Temos pois, idealmente, um princípio e um fim do movimento humano. Não poderá este movimento reger-se apenas por fins e princípios ideais, mas no plano existencial, ele manifesta-se por dois modos, pela saudade e pela razão. A saudade, que é um sentimento de feição religiosa, um sentimento por assim dizer numinoso, isto é um sentimento que ultrapassa e transcende o fenómeno, porque radica no nómeno e pode, por conseguinte, não ter sequer a mínima determinação fenomenológica, a saudade é a típica expressão sentimental do mito. O mito parte do homem, regressa ao homem, e sempre o dinamiza algo de pré-racional, uma apetência de todo o ser, lembrança e desejo talvez, como o definiu Pascoais, algo, já noutro plano, que manifesta aquela mesma noção de que um estado não é em si, pois se une moventemente ao que foi (lembrança) e ao que será (desejo).
(…) se ao mito se liga o sentimento da saudade, à utopia e à ucronia, liga-se o sentimento da angústia, que constitui a ontológica e sentimental pedra angular dos modernos sistemas metafísicos da Alemanha e da França. Compreende-se facilmente porquê: a saudade implicando a perda, a ausência, o desgarramento, todavia não exclui o desejo, a expectativa, a esperança, já que a margem de enigma e mistério do mito deixa à acção humana uma liberdade de decisão e iniciativa; correlativamente a angústia, emparedada entre o nada e o não ser, traduz o inelutável de um movimento todo exterior, que antecipou abusivamente o seu fim, que o acredita mentalmente já realizado e julga em consequência de estar à beira de um destino definitivo, de uma coisificação de determinado estado de consciência, que aparentemente é ou será «o melhor dos mundos», mas ao qual falta o que é acima de tudo essencial para o movimento humano.
(…)o mito do regresso ao Paraíso, poetado entre nós por Teixeira de Pascoais, atravessa desde o orfismo vários tempos, civilizações e mesmo religiões, transposto em diversas línguas, com diferentes imagens e personagens, mas articulando-se sempre à apetência dinâmica numa relação vivaz de ideal e real. É um mito que, constituindo-se revelação sobrenatural acerca de princípio e fim, exprimindo a possibilidade maravilhosa de génese e redenção constantemente se coaduna ao meio, que é o homem. Entre o Deus, dimanante da génese e o Deus absorvente da redenção, situa-se o homem viandante. Temos pois, idealmente, um princípio e um fim do movimento humano. Não poderá este movimento reger-se apenas por fins e princípios ideais, mas no plano existencial, ele manifesta-se por dois modos, pela saudade e pela razão. A saudade, que é um sentimento de feição religiosa, um sentimento por assim dizer numinoso, isto é um sentimento que ultrapassa e transcende o fenómeno, porque radica no nómeno e pode, por conseguinte, não ter sequer a mínima determinação fenomenológica, a saudade é a típica expressão sentimental do mito. O mito parte do homem, regressa ao homem, e sempre o dinamiza algo de pré-racional, uma apetência de todo o ser, lembrança e desejo talvez, como o definiu Pascoais, algo, já noutro plano, que manifesta aquela mesma noção de que um estado não é em si, pois se une moventemente ao que foi (lembrança) e ao que será (desejo).
(…) se ao mito se liga o sentimento da saudade, à utopia e à ucronia, liga-se o sentimento da angústia, que constitui a ontológica e sentimental pedra angular dos modernos sistemas metafísicos da Alemanha e da França. Compreende-se facilmente porquê: a saudade implicando a perda, a ausência, o desgarramento, todavia não exclui o desejo, a expectativa, a esperança, já que a margem de enigma e mistério do mito deixa à acção humana uma liberdade de decisão e iniciativa; correlativamente a angústia, emparedada entre o nada e o não ser, traduz o inelutável de um movimento todo exterior, que antecipou abusivamente o seu fim, que o acredita mentalmente já realizado e julga em consequência de estar à beira de um destino definitivo, de uma coisificação de determinado estado de consciência, que aparentemente é ou será «o melhor dos mundos», mas ao qual falta o que é acima de tudo essencial para o movimento humano.
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*«O movimento do homem»
*«O movimento do homem»
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Segundas - João Pereira Coutinho
Terças - Fernando Ilharco
Quartas - Viriato Soromenho Marques
Sextas - Paulo Tunhas
Sábados – António Quadros (António M. Ferro, Org.)
Terças - Fernando Ilharco
Quartas - Viriato Soromenho Marques
Sextas - Paulo Tunhas
Sábados – António Quadros (António M. Ferro, Org.)