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segunda-feira, 11 de junho de 2007

Blogues e Meteoros - 34

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(crónica publicada no Expresso Online desde Sexta-feira passada)
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O Triunfo do Design – IV
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No nosso tempo, a repetição deixou de ser um ritual. Sem qualquer negativismo o afirmo. É que se o rito tornava actual um mito, a repetição apenas torna actual a própria actualidade. Ao contrário do que Nietzsche disse, “Deus” não morreu. Pelo contrário, “Ele” desceu à Terra e transformou a repetição na nova “Escritura”. Ao fim e ao cabo, a repetição é o alicerce do estado generalizado de sedução em que o nosso espaço público se tornou. Neste novo reino sagrado, a conquista persuasiva do sentido passou a exceder de longe a verdade (e, naturalmente, pouco se importa com ela). É assim em todos os tipos de comunicação que hoje se “criam” (na esfera política, publicitária, institucional, etc.). E é assim, naturalmente, no âmago do código genético que os possibilita a todos: o design.
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No nosso mundo, aparentemente, os profetas já deixaram de comer rolos de papel revelados por “Deus”. Estamos muito longe desses actos únicos e irrepetíveis, próprios dos ritos religiosos, ou da “aura” que foi tema em autores que pressentiam uma espécie de pecado mortal na reproductibilidade técnica moderna. No presente, a repetição deixou de ser uma doença para passar a ser um estado que excita e motiva todos os desejos: o corpo perfeito, a casa ideal, o transporte adequado, a notícia palpitante, o ciberjogo vitorioso, o perfume intrigante, a viagem aventurosa, o portátil ecléctico, a comida rápida, a coluna de som espiritual, as luvas sensuais, a bebida energética, o discurso feliz, os sapatos ecológicos ou o blogue sempre fabuloso.
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A nova arquitectura da volúpia é, ao mesmo tempo, uma realidade das imagens e uma realidade do nosso mundo mais íntimo. Ambas partilham a mesma fonte: a repetição como forma neural de dar vida à sedução. E o mais curioso é que a repetição não parece cansar-nos, nem perturbar-nos. Por vezes, cativa, hipnotiza e toca-nos liturgicamente no fundo da alma. E porquê? Justamente, porque o design possibilita a repetição sem niilismo. É essa a sua função primordial: permitir incessantemente, e sem limites, o fluxo do desejo. É, pois, o design que faz respirar a cultura material, para que ela, por sua vez, nos seduza sem parar: repetindo sempre o aceno e o sopro como se estes não tivessem origem nem fim. Talvez tudo isto seja afinal o “Juízo Final” mais benevolente e inesperado que alguma vez esperámos de “Deus”.