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quarta-feira, 9 de maio de 2007

Pré-publicações - 28

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António Manuel Venda, O QUE ENTRA NOS LIVROS, Ambar, Lisboa, 2007.
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Pré-publicação:
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"Depois de uma última leitura do texto, dei ordem de impressão. A descrição do mágico velhinho ocupava cerca de meia página. Assinei e a seguir ainda rabisquei uma nota a informar o livreiro de que nem sabia por que estava a enviar-lhe aquela descrição, mas que já que ele perguntava eu fazia um esforço para responder. Não deixei a minha morada; mas na carta, ainda na parte escrita no computador, informava-o de que lhe iria telefonar a marcar uma ida à livraria. Afinal, pensei, nem me custava muito, porque em menos de uma hora conseguiria pôr-me lá; tinha era de esperar por uma altura em que não houvesse muitos afazeres. Meti a folha num envelope para o qual copiei o nome do livreiro e o endereço da livraria, desliguei o computador e fui até à rua. Senti o choque do frio, que talvez acabasse por me manter acordado durante mais algum tempo. Olhei as estrelas no céu – um céu estrelado como os do Verão, e o frio a atacar-me, como se fosse um bando de arqueiros pequeninos, todos a lançarem flechas feitas de agulhas. Lembrei-me de como em «O Medo Longe de Ti» o mágico velhinho tinha feito tudo para roubar um beijo que estava cravado numa estrela pequenina, um beijo da rapariga mais bonita do mundo e destinado ao jovem escritor.
Dei uma volta pelo monte. As agulhas dos arqueiros do vento frio não paravam de me acertar. Passei perto dos cães, que já estavam a dormir, os três em cima das mantas que de dia carregavam entre os dentes para se exibirem. Só um dos gatos apareceu, o branco, rebolando-se junto de mim. Os restantes três deviam andar na caça, ou em disputas no montado com alguma gineta. Voltei para casa e com a tenaz afastei os troncos que ardiam na lareira, para que as chamas fossem morrendo. Se piasse uma coruja àquela hora não seria de admirar. Esperei um pouco, mas não piou nenhuma. Vi o gato branco a passar pelo parapeito de uma das janelas, aos saltos, como se fosse com pressa em direcção a alguma coisa, talvez juntar-se aos outros na contenda com a gineta. Sim, podia ser isso, se houvesse mesmo gineta, e contenda. Um dos cães ladrou, o mais novo, mas calou-se logo a seguir; se calhar tinha sentido algum intruso por perto, um javali, ou um texugo, ou simplesmente um rato a aventurar-se por um monte onde havia gatos, ou um ouriço-cacheiro. Entrei no quarto, com a luz ténue de uma lâmpada colocada junto ao chão a permitir-me andar sem tropeções.

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– Caro colega, procurava um título?
– De um livro, suponho! – atirou o outro, com um sorrisinho que normalmente seria sonoro mas que naquela ocasião se ficou por um movimento da boca.
O senhor Sapinho Júnior disse que sim. E acrescentou um «obviamente» que se preocupou em destacar na resposta com uma pronúncia das sílabas ainda mais cuidada do que lhe era habitual. O dono da livraria ficou na expectativa, até que o senhor Sapinho Júnior lhe virou as costas, metendo-se novamente nas procuras. Passaram uns segundos, até que mesmo de costas atirou ao colega:
– António Manuel Venda. O nome, colega, diz-lhe alguma coisa?
– Autor? – perguntou o outro.
– O romance «O Medo Longe de Ti». Editora Temas e Debates.
O homem repetiu tudo para a funcionária, a quem tinha captado o olhar, como se aquilo fosse um jogo de passa-palavra. Enquanto ela se embrenhava nos registos informáticos, ele chegou-se ainda mais perto do senhor Sapinho Júnior e disse-lhe:
– Na Sapinho Livros não têm a obra, presumo…
– Ora exactamente – confirmou o senhor Sapinho Júnior. – E pretendo adquiri-la.

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Estava com o carro a uns dois metros dele. Com o motor desligado. Abri a porta e procurei no chão uma pedra pequena, coisa que não foi difícil de encontrar. Apanhei-a e fechei a porta, e logo a seguir abri o vidro e atirei a pedra para perto do pequeno mocho. Ele não se mexeu, mas os seus olhos estavam muito abertos, e tinham vida, neles eu percebia que existia vida. Podia ser mesmo um vigilante."
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Actualização das editoras que integram o projecto de pré-publicações do Miniscente: A Esfera das Letras, Antígona, Ariadne, Bizâncio, Campo das Letras, Colibri, Guerra e Paz, Livro do Dia, Magna Editora, Magnólia, Mareantes, Publicações Europa-América, Quasi, Presença e Vercial.