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sábado, 14 de abril de 2007

A memória do cinema

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"Por duas vezes, o filho transporta a mãe ao colo até junto de uma árvore. E é na última dessas breves peregrinações que tem uma visão: o mar e a imagem de um barco alternam como se a efígie nos aproximasse de uma derradeira anunciação. Pouco depois, uma borboleta fica presa entre os dedos da mãe. É o sinal da morte. A câmara inunda então o gesto do filho que liberta o insecto. Nesse instante de imprevisto clímax, o quadro plástico volta a criar ambiguidade quanto ao lugar e forma de ambos os corpos em cena. A atmosfera pictórica traduz desse modo, com grande beleza, a suspensão do tempo que subitamente religa mãe e filho.
É nesta medida que Mãe e filho de Alexandr Sokurov é uma Pietà onde o lado patético quase se anula, em benefício da compulsão que supera a ideia de morte. No filme de Sokurov, não há uma mãe que olha para o filho, mas sim um filho que olha para a mãe, após uma via dolorosa de que são personagens fundamentais a paisagem, o abandono, a solidão, mas em primeiro lugar, o amor. Um amor singular."
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(Texto integral - embora sem os itálicos - na revista Tabu do Sol de hoje)