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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Sérgio dos Santos (http://myguidetoyourgalaxy.blogspot.com/).
O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Sérgio dos Santos (http://myguidetoyourgalaxy.blogspot.com/).
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- O que é que lhe diz a palavra "blogosfera"?
Tentar definir a blogosfera de forma a que alguém que lhe é totalmente alheio e não conheça ao menos parcialmente o espectro dos seus conteúdos é equivalente a providenciar uma explicação totalmente abstracta da Internet a quem não está consciente das suas extensas possibilidades. A blogosfera é um mecanismo de suporte virtual que, à semelhança de outros meios de comunicação, permite uma maior proximidade entre indivíduos e eventuais comunidades, muitas vezes criadas por existência de interesses comuns, a que estes pertençam. Não possui qualquer significado concreto para além da sua organização material e estrutural, assim como não o têm quaisquer outras das formas de transmissão de informação mais comuns como os livros, as revistas temáticas ou a televisão, o que torna extremamente difícil explicar todas as implicações do conceito a quem não lê (ou se recusa a ler) blogues, da mesma forma que é praticamente impossível consciencializar um iletrado para a importância da leitura sem que este compreenda à partida que a relevância da faculdade de saber ler não consiste na transcendência dos grafemas aglomerados, mas no significado que a eles se atribuem e toda a quantidade de conhecimento transferível, acumulável e assimilável que potenciam. Desta forma, a blogosfera constitui um universo extremamente vasto onde é possível encontrar praticamente de tudo – divulgação de notícias e opinião sobre os eventos mais relevantes, informação e análise relacionada com respeito a assuntos académicos de distintas áreas, receitas gastronómicas, diários pessoais, obras de carácter literário, curtas-metragens, humor, etc.
A grande diferença relativamente à era anterior à profusão da blogosfera – que não é mais do que o conjunto de todos os blogues e a interacção por estes e entre estes gerada – é o facto de que, com a sua existência, o acesso a estes conteúdos por parte de quem os procura tornou-se infinitamente mais fácil, rápido e barato e abriu uma miríade de possibilidades para quem os deseja disponibilizar. Dado que os únicos requisitos para a criação são o desejo de a concretizar, a posse de recursos informáticos adequados e o conhecimento para os utilizar, aquilo que anteriormente estava extremamente condicionado – por uma procura que teria de necessariamente sustentar os gastos existentes com a publicação do que se deseja produzir – e sujeito a uma hierarquia de difusão que influenciava de forma determinante o universo geográfico da sua distribuição, a flexibilidade e alcance do que se pode fazer online, como o debate de ideias ou discussão de teorias, modificou-se imenso no sentido positivo. Muitos destes condicionamentos previamente impostos foram, em larga escala, quebrados – actualmente qualquer pessoa em Portugal pode escrever sobre um acontecimento que ocorreu há poucos minutos e estar a ser lida nesse mesmo instante por outra na Nova Zelândia sem que nenhuma delas tenha custos adicionais directos por enviar ou receber esses dados. Já para não referir o facto de que a interacção entre estas duas pessoas tem a probabilidade de ser muito mais dinâmica e directa do que a observada em qualquer outro meio de comunicação deste género.
Claro que existem muitas outras formas de analisar ou compreender a blogosfera, seja do ponto de vista de toda a psicologia social que envolve – afinal, continuamos a falar de seres humanos – ou das implicações económicas e sociais em que se traduz (e em que se traduzirá no futuro) mas isso provavelmente escapa ao âmbito de uma impressão mais imediata do que é, efectivamente, a blogosfera.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Não creio ter seguido nenhum acontecimento específico somente através de blogues mas utilizo-os frequentemente como forma de aceder a informação que está disponível em publicações online. Uma vez que existem diversos blogues que funcionam como portais temáticos e, directa ou indirectamente, acabam por funcionar como resumo de notícias que sejam relevantes para o objectivo do blogue em questão, tornam-se extremamente úteis como fonte de compilação de informação que, de outra forma, estaria totalmente dispersa e seria bastante mais difícil de reunir. Em muitas ocasiões, na ausência de blogues, tal busca requereria gastos muito mais elevados pela necessidade de adquirir publicações específicas, uma perda de tempo muito superior e um esforço desnecessário. Se se conhecerem os blogues certos escritos pelos autores certos, a eficiência do fluxo de informação que desejamos obter aumenta assustadoramente.
Por outro lado, não é raro acompanhar os textos de alguns autores de blogues cuja opinião se valoriza mais do que as que predominantemente encontram maior eco nos meios de comunicação social. E, obviamente, isto não ocorre exclusivamente no domínio político, mas também no científico ou artístico.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
O impacto mais significativo de todos foi provavelmente o de passar a ler alguns deles com muita frequência, o que fez com que uma grande percentagem do meu tempo total dedicado à leitura tivesse passado a ser ocupada por eles. Este efeito torna-se mais significativo e visível quando também se sente compelido a escrever. Quando se tentam conjugar ambos com outras actividades, que muitas vezes não estão nada relacionadas entre si, depara-se com o fenómeno dos dias demasiado curtos.
Existiram, claro, outros impactos para além deste, mas esses apenas a médio prazo poderei determinar se foram ou não marcantes.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
De forma geral, não. A maior parte das pessoas tendem a formular a sua impressão sobre este assunto com base na sua experiência pessoal, referindo-se ao país onde vivem e onde costumam ler e escrever. No entanto, como em quase tudo o que se refira a matérias relacionadas com liberdades individuais, a verdadeira resposta a essa pergunta estará sempre dependente do local a que nos referimos. Em diversos países foram já presos autores de blogues por afirmações que fizeram ou simplesmente pelo facto de as ideias que regularmente expressam no seu espaço de opinião serem consideradas um delito. Em termos estritamente editoriais – que digam apenas respeito à organização interna de um blogue e não à lei vigente na localidade onde este é publicado (a que serviços de hospedagem acabarão por estar sempre submetidos) – a liberdade é total. A menos, claro, que o blogue seja colectivo e possua um critério que impeça os co-autores de exprimir a sua opinião sobre um dado assunto ou de o fazer de alguma forma específica, mas isso será sempre uma imposição a que ninguém está forçosamente obrigado a menos que pretenda livre e voluntariamente aceitar essa condição em troca da possibilidade de participação no referido espaço.
Tentar definir a blogosfera de forma a que alguém que lhe é totalmente alheio e não conheça ao menos parcialmente o espectro dos seus conteúdos é equivalente a providenciar uma explicação totalmente abstracta da Internet a quem não está consciente das suas extensas possibilidades. A blogosfera é um mecanismo de suporte virtual que, à semelhança de outros meios de comunicação, permite uma maior proximidade entre indivíduos e eventuais comunidades, muitas vezes criadas por existência de interesses comuns, a que estes pertençam. Não possui qualquer significado concreto para além da sua organização material e estrutural, assim como não o têm quaisquer outras das formas de transmissão de informação mais comuns como os livros, as revistas temáticas ou a televisão, o que torna extremamente difícil explicar todas as implicações do conceito a quem não lê (ou se recusa a ler) blogues, da mesma forma que é praticamente impossível consciencializar um iletrado para a importância da leitura sem que este compreenda à partida que a relevância da faculdade de saber ler não consiste na transcendência dos grafemas aglomerados, mas no significado que a eles se atribuem e toda a quantidade de conhecimento transferível, acumulável e assimilável que potenciam. Desta forma, a blogosfera constitui um universo extremamente vasto onde é possível encontrar praticamente de tudo – divulgação de notícias e opinião sobre os eventos mais relevantes, informação e análise relacionada com respeito a assuntos académicos de distintas áreas, receitas gastronómicas, diários pessoais, obras de carácter literário, curtas-metragens, humor, etc.
A grande diferença relativamente à era anterior à profusão da blogosfera – que não é mais do que o conjunto de todos os blogues e a interacção por estes e entre estes gerada – é o facto de que, com a sua existência, o acesso a estes conteúdos por parte de quem os procura tornou-se infinitamente mais fácil, rápido e barato e abriu uma miríade de possibilidades para quem os deseja disponibilizar. Dado que os únicos requisitos para a criação são o desejo de a concretizar, a posse de recursos informáticos adequados e o conhecimento para os utilizar, aquilo que anteriormente estava extremamente condicionado – por uma procura que teria de necessariamente sustentar os gastos existentes com a publicação do que se deseja produzir – e sujeito a uma hierarquia de difusão que influenciava de forma determinante o universo geográfico da sua distribuição, a flexibilidade e alcance do que se pode fazer online, como o debate de ideias ou discussão de teorias, modificou-se imenso no sentido positivo. Muitos destes condicionamentos previamente impostos foram, em larga escala, quebrados – actualmente qualquer pessoa em Portugal pode escrever sobre um acontecimento que ocorreu há poucos minutos e estar a ser lida nesse mesmo instante por outra na Nova Zelândia sem que nenhuma delas tenha custos adicionais directos por enviar ou receber esses dados. Já para não referir o facto de que a interacção entre estas duas pessoas tem a probabilidade de ser muito mais dinâmica e directa do que a observada em qualquer outro meio de comunicação deste género.
Claro que existem muitas outras formas de analisar ou compreender a blogosfera, seja do ponto de vista de toda a psicologia social que envolve – afinal, continuamos a falar de seres humanos – ou das implicações económicas e sociais em que se traduz (e em que se traduzirá no futuro) mas isso provavelmente escapa ao âmbito de uma impressão mais imediata do que é, efectivamente, a blogosfera.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Não creio ter seguido nenhum acontecimento específico somente através de blogues mas utilizo-os frequentemente como forma de aceder a informação que está disponível em publicações online. Uma vez que existem diversos blogues que funcionam como portais temáticos e, directa ou indirectamente, acabam por funcionar como resumo de notícias que sejam relevantes para o objectivo do blogue em questão, tornam-se extremamente úteis como fonte de compilação de informação que, de outra forma, estaria totalmente dispersa e seria bastante mais difícil de reunir. Em muitas ocasiões, na ausência de blogues, tal busca requereria gastos muito mais elevados pela necessidade de adquirir publicações específicas, uma perda de tempo muito superior e um esforço desnecessário. Se se conhecerem os blogues certos escritos pelos autores certos, a eficiência do fluxo de informação que desejamos obter aumenta assustadoramente.
Por outro lado, não é raro acompanhar os textos de alguns autores de blogues cuja opinião se valoriza mais do que as que predominantemente encontram maior eco nos meios de comunicação social. E, obviamente, isto não ocorre exclusivamente no domínio político, mas também no científico ou artístico.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
O impacto mais significativo de todos foi provavelmente o de passar a ler alguns deles com muita frequência, o que fez com que uma grande percentagem do meu tempo total dedicado à leitura tivesse passado a ser ocupada por eles. Este efeito torna-se mais significativo e visível quando também se sente compelido a escrever. Quando se tentam conjugar ambos com outras actividades, que muitas vezes não estão nada relacionadas entre si, depara-se com o fenómeno dos dias demasiado curtos.
Existiram, claro, outros impactos para além deste, mas esses apenas a médio prazo poderei determinar se foram ou não marcantes.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
De forma geral, não. A maior parte das pessoas tendem a formular a sua impressão sobre este assunto com base na sua experiência pessoal, referindo-se ao país onde vivem e onde costumam ler e escrever. No entanto, como em quase tudo o que se refira a matérias relacionadas com liberdades individuais, a verdadeira resposta a essa pergunta estará sempre dependente do local a que nos referimos. Em diversos países foram já presos autores de blogues por afirmações que fizeram ou simplesmente pelo facto de as ideias que regularmente expressam no seu espaço de opinião serem consideradas um delito. Em termos estritamente editoriais – que digam apenas respeito à organização interna de um blogue e não à lei vigente na localidade onde este é publicado (a que serviços de hospedagem acabarão por estar sempre submetidos) – a liberdade é total. A menos, claro, que o blogue seja colectivo e possua um critério que impeça os co-autores de exprimir a sua opinião sobre um dado assunto ou de o fazer de alguma forma específica, mas isso será sempre uma imposição a que ninguém está forçosamente obrigado a menos que pretenda livre e voluntariamente aceitar essa condição em troca da possibilidade de participação no referido espaço.
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Entrevistas anteriores (apenas a Série II): Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima, Pedro Fonseca, Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota, João Morgado Fernandes, José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira, Madalena Palma, Carla Quevedo, Pedro Lomba, Luís Miguel Dias, Leonel Vicente, José Manuel Fonseca, Patrícia Gomes da Silva, Carlos do Carmo Carapinha, Ricardo Gross, Maria do Rosário Fardilha, Mostrengo Adamastor, Sérgio Lavos, Batukada, Fernando Venâncio, Luís Aguiar-Conraria, Luís M. Jorge, Pitucha, Gabriel Silva, Masson, João Caetano Dias, Ana Luísa Silva, Ana Silva, Ana Clotilde Correia (aka Margot), Tomás Vasques, Ticcia Patrícia Antoniete, Maria João Eloy, André Azevedo Alves, Sílvia Chueire, André Moura e Cunha, Helder Bastos, José Bandeira e João Espinho. Agenda para esta semana (de 12/2 a 17/2): Henrique Raposo, Jorge Vaz Nande, João Melo, Diogo Vaz Pinto, Alice Morgado e Sérgio dos Santos.