LC
e
O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é André Moura e Cunha, nascido no Porto há 34 anos, professor universitário (http://amc-ausencia.blogspot.com/).
O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é André Moura e Cunha, nascido no Porto há 34 anos, professor universitário (http://amc-ausencia.blogspot.com/).
e
- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Efervescência opinativa de um conjunto, razoável e alvoroçadamente, heterogéneo de pessoas, que encerra a virtude de albergar um subconjunto composto por uma multidão que jamais ousou ou ousará aceder aos meios de comunicação tradicionais, dado o tolerado – leia-se “resignada aceitação” – oligopólio da opinião no panorama comunicacional luso.
Por muito que isso possa custar, é, acima de tudo, libertação e liberdade, são, simultaneamente, matéria-prima e produto de um processo designado por democratização: um espaço irrestrito de partilha de opiniões e de debate de ideias, como uma carta de alforria que a nós próprios concedemos – um dos meios de materialização do nosso direito inalienável à autodeterminação –, porém, regido de forma indelével, e de certa forma subliminar, pelos nossos arquétipos morais e educacionais, sob pena de se tratar de um processo de devassidão auto-infligido, burlesco, de mera pornografia intelectual, através do qual haveremos de perceber, mais cedo ou mais tarde, ter-se tratado de um putativo prazer solitário, narcisista, autista e eminentemente auto-ilusório, bem longe da interactividade exigida pelo acto de escrever quando este é associado à publicação do material escrito. Ou seja, é um espaço que se auto-regula e onde se aplica com elevado grau de pureza as regras elementares da livre competição das ideias.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Nomeio dois, entre muitos outros, a que dediquei especial atenção: as últimas eleições presidenciais no nosso país e o célebre caso da publicação das caricaturas de Maomé num periódico dinamarquês e a reacção do mundo islâmico, com especial atenção ao subcapítulo da licenciosidade versus liberdade de expressão.
De resto, dada a escassez de conteúdos editoriais ditos tradicionais que se dediquem em exclusivo à Literatura e mais em concreto à sua privilegiada função instrumental de cultora do ócio como terapia ocupacional – ingrediente indispensável ao eterno encalço da felicidade –, interesso-me por blogues que discorrem sobre livros, sobre os seus autores e sobre os seus valores e importância no mundo literário.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Ainda na fase do estranhamento qualifiquei o tempo despendido como inútil e até destruidor das energias necessárias à actividade produtiva e até aos momentos de ócio. Depois o “bicho” entranhou-se e dei o tempo por bem empregado. Todavia, por vezes sobrevém a trucidante sensação de peso na consciência pelo tempo que lhes é dedicado e que seria necessário aplicar ao prosseguimento de uma determinada tarefa que nos foi imposta ou que, em tempos, nos impusemos a empreender, daí haver suspendido a minha actividade na blogosfera em Setembro último.
Contudo, a minha curta e salutar experiência nessa envolvente ensinou-me que em associação ao conceito de “blogosfera” tem de existir, necessariamente, uma lógica relacional de aceitação do pluralismo conceptual, ideológico e comportamental para a nossa própria sobrevivência sob essa atmosfera, sem que isso queira significar acomodação ou renúncia pelo combate das ideias perante a constatação da diferença.
Ademais – e comigo assim aconteceu –, a definição e o campo de actuação da blogosfera enquadram-se, numa conformidade irrefutável – se se quiser com alguns laivos da vetusta e recalcada teoria freudiana –, no conceito de “válvula de escape”: extravasamento emocional, arrebatamento, inquietação, inconformismo, expiação; dar roda livre às compulsões que de outro modo ficariam cá dentro a causar dano e só quando se consegue compensar de forma generosa – percepção de eventual reciprocidade – o tempo despendido na sua arquitectura, apesar da não susceptibilidade indemnizatória dada a sua intangibilidade, é que declaramos o empreendimento como gratificante ou, como dizem os espanhóis, impactante.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Suponho que sim, na medida em que estou convencido de que essa condição – liberdade editorial – é simultaneamente a energia propulsora e a força de sustentação da própria blogosfera. No entanto, acredito que há um conjunto de blogues ditos de referência em que existe uma agenda predefinida, seja qual for a sua índole, com objectivos bem delineados, exigindo-se uma estrita observância dos requisitos reputados como necessários à sobrevivência do objecto e à sua missão, facto que de todo não me repugna, nem me tira o sono. Depois, o que é ser-se livre?
- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Efervescência opinativa de um conjunto, razoável e alvoroçadamente, heterogéneo de pessoas, que encerra a virtude de albergar um subconjunto composto por uma multidão que jamais ousou ou ousará aceder aos meios de comunicação tradicionais, dado o tolerado – leia-se “resignada aceitação” – oligopólio da opinião no panorama comunicacional luso.
Por muito que isso possa custar, é, acima de tudo, libertação e liberdade, são, simultaneamente, matéria-prima e produto de um processo designado por democratização: um espaço irrestrito de partilha de opiniões e de debate de ideias, como uma carta de alforria que a nós próprios concedemos – um dos meios de materialização do nosso direito inalienável à autodeterminação –, porém, regido de forma indelével, e de certa forma subliminar, pelos nossos arquétipos morais e educacionais, sob pena de se tratar de um processo de devassidão auto-infligido, burlesco, de mera pornografia intelectual, através do qual haveremos de perceber, mais cedo ou mais tarde, ter-se tratado de um putativo prazer solitário, narcisista, autista e eminentemente auto-ilusório, bem longe da interactividade exigida pelo acto de escrever quando este é associado à publicação do material escrito. Ou seja, é um espaço que se auto-regula e onde se aplica com elevado grau de pureza as regras elementares da livre competição das ideias.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Nomeio dois, entre muitos outros, a que dediquei especial atenção: as últimas eleições presidenciais no nosso país e o célebre caso da publicação das caricaturas de Maomé num periódico dinamarquês e a reacção do mundo islâmico, com especial atenção ao subcapítulo da licenciosidade versus liberdade de expressão.
De resto, dada a escassez de conteúdos editoriais ditos tradicionais que se dediquem em exclusivo à Literatura e mais em concreto à sua privilegiada função instrumental de cultora do ócio como terapia ocupacional – ingrediente indispensável ao eterno encalço da felicidade –, interesso-me por blogues que discorrem sobre livros, sobre os seus autores e sobre os seus valores e importância no mundo literário.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Ainda na fase do estranhamento qualifiquei o tempo despendido como inútil e até destruidor das energias necessárias à actividade produtiva e até aos momentos de ócio. Depois o “bicho” entranhou-se e dei o tempo por bem empregado. Todavia, por vezes sobrevém a trucidante sensação de peso na consciência pelo tempo que lhes é dedicado e que seria necessário aplicar ao prosseguimento de uma determinada tarefa que nos foi imposta ou que, em tempos, nos impusemos a empreender, daí haver suspendido a minha actividade na blogosfera em Setembro último.
Contudo, a minha curta e salutar experiência nessa envolvente ensinou-me que em associação ao conceito de “blogosfera” tem de existir, necessariamente, uma lógica relacional de aceitação do pluralismo conceptual, ideológico e comportamental para a nossa própria sobrevivência sob essa atmosfera, sem que isso queira significar acomodação ou renúncia pelo combate das ideias perante a constatação da diferença.
Ademais – e comigo assim aconteceu –, a definição e o campo de actuação da blogosfera enquadram-se, numa conformidade irrefutável – se se quiser com alguns laivos da vetusta e recalcada teoria freudiana –, no conceito de “válvula de escape”: extravasamento emocional, arrebatamento, inquietação, inconformismo, expiação; dar roda livre às compulsões que de outro modo ficariam cá dentro a causar dano e só quando se consegue compensar de forma generosa – percepção de eventual reciprocidade – o tempo despendido na sua arquitectura, apesar da não susceptibilidade indemnizatória dada a sua intangibilidade, é que declaramos o empreendimento como gratificante ou, como dizem os espanhóis, impactante.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Suponho que sim, na medida em que estou convencido de que essa condição – liberdade editorial – é simultaneamente a energia propulsora e a força de sustentação da própria blogosfera. No entanto, acredito que há um conjunto de blogues ditos de referência em que existe uma agenda predefinida, seja qual for a sua índole, com objectivos bem delineados, exigindo-se uma estrita observância dos requisitos reputados como necessários à sobrevivência do objecto e à sua missão, facto que de todo não me repugna, nem me tira o sono. Depois, o que é ser-se livre?
e
Entrevistas anteriores (apenas a Série II): Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima, Pedro Fonseca, Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota, João Morgado Fernandes, José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira, Madalena Palma, Carla Quevedo, Pedro Lomba, Luís Miguel Dias, Leonel Vicente, José Manuel Fonseca, Patrícia Gomes da Silva, Carlos do Carmo Carapinha, Ricardo Gross, Maria do Rosário Fardilha, Mostrengo Adamastor, Sérgio Lavos, Batukada, Fernando Venâncio, Luís Aguiar-Conraria, Luís M. Jorge, Pitucha, Gabriel Silva, Masson, João Caetano Dias, Ana Luísa Silva, Ana Silva, Ana Clotilde Correia (aka Margot), Tomás Vasques, Ticcia Patrícia Antoniete e Maria João Eloy. Agenda para esta semana: André Azevedo Alves, Sílvia Chueire, André Moura e Cunha, Helder Bastos, José Bandeira e João Espinho.