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quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Pré-publicações - 12


Jeremy Nicholas, Chopin, Vida e Obra, Bizâncio, Lisboa.
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Pré-publicação:
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"Capítulo 1
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Da Quinta ao Palácio, 1810-1822
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Ninguém sabe ao certo em que data nasceu Fryderyk Franciszek Chopin. O ano não oferece dúvida: 1810. O local também é certo: uma casa rural térrea com paredes caiadas e chão de terra batida na propriedade do Conde Skarbek em Zelazowa Wola, pequena aldeia na margem do Rio Utrata, a cerca de trinta quilómetros para oeste de Varsóvia. O registo de baptismo na vizinha igreja de Brochow dá o nascimento como ocorrido em 22 de Fevereiro, mas, como frequentemente acontecia com tais registos, a data pode muito bem ser aquela em que foi participado o nascimento, muitas vezes semanas depois do acontecido. A incerteza surgiu porque a família de Chopin e o próprio compositor sempre afirmaram que ele tinha nascido no dia 1 de Março. Os estudiosos de Chopin inclinam-se para esta data, em detrimento da de 22 de Fevereiro, na proporção aproximada de dois para um, se bem que não existam provas concretas que corroborem nenhuma delas.
Chopin era franco-polaco de nascimento. O pai, Nicolas, tinha ido parar àquela propriedade agrícola por um caminho tortuoso e durante muito tempo houve incerteza quanto às suas exactas origens. Frederick Niecks, naquela que foi durante muitos anos a autoridade de referência sobre Chopin, afirmava que Nicolas Chopin tinha nascido em 1770 em Nancy, Lorena, e rejeitava as alegações de que ele fosse “filho natural de um nobre polaco que foi para a Lorena com o Rei Estanislau Leszcinski”. Hoje, porém, restam poucas dúvidas de que Nicolas Chopin nasceu no seio de uma família de camponeses, em 15 de Abril de 1771, em Marainville, aldeia da região dos Vosges, no nordeste de França. O jovem Nicolas despertou a atenção de um polaco, Jan Weydlich, administrador da propriedade agrícola de um nobre polaco, o Conde Michal Pac. É possível que a família Pac se tenha mudado para a região quando, em 1735, o Rei Estanislau recebeu o título de Duque da Lorena. Fosse como fosse, Nicholas Chopin conviveu com os polacos desde tenra idade e quando, em 1787, Weydlich resolveu voltar ao seu país de origem, Nicolas acompanhou-o, segundo alguns para fugir ao recrutamento para o exército francês. Nos cinco anos seguintes Nicolas trabalhou como empregado de escritório na fábrica de tabaco de Weydlich, em Varsóvia.
A cidade deve ter surpreendido pela sua grandiosidade o jovem camponês de França. Um tal Sr. Coxe, que visitou Varsóvia pouco antes de Nicolas Chopin lá ter chegado, deixou-nos as suas impressões:
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As ruas são espaçosas, mas mal calcetadas; as igrejas e os edifícios públicos são grandes e imponentes, os palácios da nobreza são numerosos e magníficos; mas na sua maioria as casas, em especial nos subúrbios, são choupanas de madeira, minúsculas e mal construídas.
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O que mais deve ter impressionado Nicolas Chopin terão sido as movimentadas ruas e praças de Varsóvia, animadas por uma mescla de polacos, lituanos, russos, alemães, moscovitas, judeus e wallachianos. J.E. Hitzig, biógrafo de E.T.A. Hoffmann que conhecia bem Varsóvia, pinta um retrato expressivo do local:
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As ruas de largura imponente, formadas por palácios ao melhor gosto italiano e por barracas de madeira que ameaçavam ruir a qualquer momento em cima das cabeças dos moradores… Judeus de longas barbas, e monges vestindo todo o tipo de hábito, freiras da mais rigorosa disciplina, completamente veladas e entrapadas, em meditação; e nas grandes praças bandos de jovens polacas com xailes de cores garridas, a conversar; veneráveis anciãos polacos de bigodes, cafetã, cinto, espada, e botas amarelas e vermelhas; e a nova geração vestida à mais inacreditável moda parisiense. Turcos, gregos, russos, italianos e franceses numa multidão em mutação constante; ainda por cima, uma polícia extremamente tolerante que não interferia minimamente com os divertimentos populares, pelo que pelas praças e ruas circulavam constantemente teatros de Polichinelo, ursos bailarinos, camelos e macacos, diante dos quais as mais elegantes carruagens e os moços de recados paravam a olhar embasbacados.
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Em 1792, a Polónia foi dividida entre a Rússia, a Prússia e a Áustria, o que levou ao encerramento da fábrica de tabaco. Mais uma vez o destino deu uma ajuda. Talvez Nicolas Chopin tivesse regressado a França em busca de trabalho se não tivesse adoecido. Quando se recompôs, já estava em marcha a insurreição de Março de 1794 – uma reacção à Segunda Partilha da Polónia. Alistou-se na Guarda Nacional de Varsóvia, chegando ao posto de capitão, mas foi ferido. Na sequência da derrota das forças polacas, seis meses depois, pela Rússia e pela Prússia, viu-se mais uma vez desempregado. Iria ser salvo pela sua língua materna. O francês era na altura a lingua franca da aristocracia e da sociedade culta, na Rússia e na Polónia. Era moda essas famílias terem um preceptor de língua francesa para os filhos, e em 1794 Nicolas Chopin teve a sorte de conseguir esse lugar junto da rica família Laczynski, nos arredores de Varsóvia. Aí estava pois um francês que, apesar de ter virado as costas à sua França natal, ganhava a vida a ensinar francês aos polacos. À semelhança de muitos outros imigrantes, Nicolas adoptou os hábitos, a cultura e a língua da sua nova pátria com maior fervor do que os cidadãos nativos, tornando-se mais pró-polaco do que os próprios polacos. Até mudou o nome, de Nicolas para Mikolaj. Cortados os últimos laços com a terra natal, viria mais tarde a manter os filhos na ignorância quanto à sua nacionalidade francesa e às suas origens humildes."
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