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O Miniscente está a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje a convidada é Patrícia Gomes da Silva, jurista, 34 anos (www.abrotea.blogspot.com e www.almamater.blogger.com.br).
O Miniscente está a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje a convidada é Patrícia Gomes da Silva, jurista, 34 anos (www.abrotea.blogspot.com e www.almamater.blogger.com.br).
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- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Tal como antes referi, é uma teia onde se pode encontrar palavras, raciocínios, sentimentos, opiniões sobre quase tudo.
É também um sinal de solidão, parece-me. Chega a ser uma contradição. Se por um lado chegamos a todo o lado, numa lógica de globalização, por outro estamos cada vez mais longe do que está próximo.
Custa-me pensar que se a blogosfera vem substituindo os convívios, as tertúlias, aqueles espaços onde antes se discutiam as questões interessantes e que eram importantes na consolidação dos conhecimentos e que contribuíam para que nos mantivéssemos de espírito aberto, atento e crítico.
Hoje, parece-me que são cada vez menos os momentos em que isso acontece. Talvez por falta (aparente) de tempo. Mas a tendência parece ser a de procurar, num acto solitário, as opiniões (solitárias também elas) dos outros na blogosfera. Não digo que seja errado. Apenas insuficiente. Perde-se a capacidade de contradizer. Perdem-se as pessoas.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Nunca segui nenhum acontecimento através de blogues. Tenho sempre a necessidade de procurar informação onde me parece ser mais isenta. Claro que quem conta um conto, acrescenta um ponto. Mas tento sempre seguir os acontecimentos pela comunicação social, lendo vários jornais, ouvindo diversas rádios e tentando seguir os boletins informativos de todas as televisões portuguesas. Se estivermos a falar de uma acontecimento internacional, muitas das vezes procuro encontrar informação directamente na comunicação social estrangeira. Raramente procuro nos blogues essa informação por uma razão simples: raramente são isentos e imparciais. Aliás, por definição são mesmo subjectivos. São a voz parcial, opinativa dos seus autores. E, por isso, raramente os visito. A proliferação de blogues de opinião, de sujeitos que pensam discorrem sobre o mundo e os seus factos chega a ser algo muito irritante. Todos têm algo a dizer sobre tudo. Como se pudéssemos deixar pura e simplesmente de raciocinar sobre as coisas e apreender, tão só, os raciocínios dos outros. Isso é algo que me incomoda e que evito. Prefiro correr o risco de ter uma opinião errada, mas ser a minha. Corro conscientemente esse risco. Porque no fim, o mundo será aquilo que eu entendo dele e não apenas o que outros pensaram.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Curiosa como sou, assim que ouvi falar em blogs, procurei informação. Experimentei criar um, logo depois outro. Desde então tenho criado vários para as pessoas que conheço. Sou uma adepta, apesar do que escrevi acima ou talvez mesmo por isso. Escrever muitas vezes é como exorcizar medos, frustrações, fantasmas. Poder publicar o que se escreve, colocar as palavras à disposição dos outros, faz parte desse processo de me livrar do pensamento e do inconsciente. É um puro acto de egoísmo. Porque se sabe bem ser-se lido, receber comentários, críticas, o importante é poder dar (literalmente) o que está cá dentro e está a mais. Antes dos blogues, as palavras guardavam-se em papéis amarrotados, empilhados e esquecidos. Mas continuavam sendo só minhas. E por isso, vivas e incómodas. Desde que pude começar a publicar os meus textos, aconteceu que deixaram de ser minhas. E por isso de me afectar. Agora, pelos comentários e e-mails que recebo, constato que passaram a ser de outros. Há quem leia o que escrevo e passe a sentir como seu os sentimentos que descrevi. Por isso alimentar um blogue passou a ser um acto de egoísmo, porque de alívio.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Sim, entendo a blogosfera uma forma de expressão editorialmente livre. Quando os blogues funcionam como uma extensão do pensamento de cada um, adquirem uma volatilidade natural, propria do pensamento. Imaginar que possam surgir limites exteriores parece-me absurdo mas...não começam eles já a surgir?
Mais do que lhe responder, apetece-me deixar-lhe a questão de saber se será razoável impor limitações à blogosfera que ultrapasssem a consciência individual de quem escreve!
- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Tal como antes referi, é uma teia onde se pode encontrar palavras, raciocínios, sentimentos, opiniões sobre quase tudo.
É também um sinal de solidão, parece-me. Chega a ser uma contradição. Se por um lado chegamos a todo o lado, numa lógica de globalização, por outro estamos cada vez mais longe do que está próximo.
Custa-me pensar que se a blogosfera vem substituindo os convívios, as tertúlias, aqueles espaços onde antes se discutiam as questões interessantes e que eram importantes na consolidação dos conhecimentos e que contribuíam para que nos mantivéssemos de espírito aberto, atento e crítico.
Hoje, parece-me que são cada vez menos os momentos em que isso acontece. Talvez por falta (aparente) de tempo. Mas a tendência parece ser a de procurar, num acto solitário, as opiniões (solitárias também elas) dos outros na blogosfera. Não digo que seja errado. Apenas insuficiente. Perde-se a capacidade de contradizer. Perdem-se as pessoas.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Nunca segui nenhum acontecimento através de blogues. Tenho sempre a necessidade de procurar informação onde me parece ser mais isenta. Claro que quem conta um conto, acrescenta um ponto. Mas tento sempre seguir os acontecimentos pela comunicação social, lendo vários jornais, ouvindo diversas rádios e tentando seguir os boletins informativos de todas as televisões portuguesas. Se estivermos a falar de uma acontecimento internacional, muitas das vezes procuro encontrar informação directamente na comunicação social estrangeira. Raramente procuro nos blogues essa informação por uma razão simples: raramente são isentos e imparciais. Aliás, por definição são mesmo subjectivos. São a voz parcial, opinativa dos seus autores. E, por isso, raramente os visito. A proliferação de blogues de opinião, de sujeitos que pensam discorrem sobre o mundo e os seus factos chega a ser algo muito irritante. Todos têm algo a dizer sobre tudo. Como se pudéssemos deixar pura e simplesmente de raciocinar sobre as coisas e apreender, tão só, os raciocínios dos outros. Isso é algo que me incomoda e que evito. Prefiro correr o risco de ter uma opinião errada, mas ser a minha. Corro conscientemente esse risco. Porque no fim, o mundo será aquilo que eu entendo dele e não apenas o que outros pensaram.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Curiosa como sou, assim que ouvi falar em blogs, procurei informação. Experimentei criar um, logo depois outro. Desde então tenho criado vários para as pessoas que conheço. Sou uma adepta, apesar do que escrevi acima ou talvez mesmo por isso. Escrever muitas vezes é como exorcizar medos, frustrações, fantasmas. Poder publicar o que se escreve, colocar as palavras à disposição dos outros, faz parte desse processo de me livrar do pensamento e do inconsciente. É um puro acto de egoísmo. Porque se sabe bem ser-se lido, receber comentários, críticas, o importante é poder dar (literalmente) o que está cá dentro e está a mais. Antes dos blogues, as palavras guardavam-se em papéis amarrotados, empilhados e esquecidos. Mas continuavam sendo só minhas. E por isso, vivas e incómodas. Desde que pude começar a publicar os meus textos, aconteceu que deixaram de ser minhas. E por isso de me afectar. Agora, pelos comentários e e-mails que recebo, constato que passaram a ser de outros. Há quem leia o que escrevo e passe a sentir como seu os sentimentos que descrevi. Por isso alimentar um blogue passou a ser um acto de egoísmo, porque de alívio.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Sim, entendo a blogosfera uma forma de expressão editorialmente livre. Quando os blogues funcionam como uma extensão do pensamento de cada um, adquirem uma volatilidade natural, propria do pensamento. Imaginar que possam surgir limites exteriores parece-me absurdo mas...não começam eles já a surgir?
Mais do que lhe responder, apetece-me deixar-lhe a questão de saber se será razoável impor limitações à blogosfera que ultrapasssem a consciência individual de quem escreve!
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Entrevistas anteriores (apenas a Série II): Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima, Pedro Fonseca, Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota, João Morgado Fernandes, José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira e Madalena Palma. Agenda para esta semana (de 8 /1 a 13/1/07): Carla Quevedo, Pedro Lomba, Luís Miguel Dias, Leonel Vicente, José Manuel Fonseca e Patrícia Gomes da Silva.