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domingo, 31 de dezembro de 2006

Brevíssimo conto de fim de ano

para eles e eles sabem porquê
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O menino do urso
E
Era uma casa em que os móveis estavam todos cobertos com panos brancos. Uma montanha de neve sob tectos recortados pela humidade e pela memória muito antiga dos passos ao longe (estrados que rangiam, degraus soltos, o soalho ao vento). Um torrão de açúcar a ocupar a respiração e o respigar com que o coração do menino se agitava.
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Até o relógio de parede (um papagaio de cobre a imergir no tic-tac), a ventoinha presa ao tecto e o bengaleiro de marfim pareciam mumificados. A luz apenas entrava pelo vão da janela por onde ia espreitando a brisa do fim da tarde. E não havia um único volume – sofá, cómoda ou piano – que não tivesse adormecido com toda a moleza sob a brancura dos lençóis. Há tantos anos.
E
O tempo tinha cristalizado como salgema na gruta e apenas parecia dar de si quando a brisa empurrava, aqui e ali, as portadas pesadas das janelas. Um breve sobressalto a atravessar o olhar de soldadinho de chumbo que o menino respirava. Um longo pasmo a tecer o fôlego com que o menino temia, ao fim e ao cabo, este grande teatro da obscuridade.
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E foi quando tornou a olhar para o tecto que o menino reviu o desenho que lhe sugeria marés vivas, murmúrios de ondas, ecos de búzios marinhos e cascatas inundadas por peixes vermelhos. Um oceano sem águas.
e
Depois, com muito vagar, o menino baixou os olhos e acabou por descobrir a cauda do urso a escapar-se por entre a dobra do manto branco que tudo cobria na penumbra antiga da casa.
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Subitamente, o menino percebeu que o som dos seus passos era igual ao som que a memória mais antiga da casa silenciara. Um augúrio feliz. Desde esse dia que o menino nunca mais abandonou o urso.
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Atravessou o corredor, correu, correu, correu, bateu com a porta e descobriu que a luz do fim da tarde lhe concedia o novo sinal, o novo sortilégio. Desde esse dia até hoje, quando estão a sós, o menino e o urso passam o tempo a falar.
e
Uma fala de marés vivas.
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Bom ano.

CONCURSO ANO NOVO - 17


O Rapto das Sabinas, John Leech, WPD
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OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS(SÁBADO, DIA 06/01/07).
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A conclusão sage: “E Deus pegou-me e sussurrou em voz muito baixa.”
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PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

sábado, 30 de dezembro de 2006

O nome de 2007

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Cada década acaba sempre por corresponder a uma escala musical que se esgota, ao insuflar de um balão que depois se esvazia, ou a um soufflé que se expande no forno até abrir brecha. Isso mesmo: uma brecha que não nos chega a preparar, como deve ser, para a década seguinte. O que se passa à escala de uma década passa-se também à escala de um ano. Ora, soletremos o número "2007" e perguntemo-nos, depois, se ele não tem o seu quê de corpo estranho? Cada número tem evidentemente o seu nome mais ou menos secreto, mas, quando o número coincide com um ano, esse nome parece assustar-nos. É como se nele revíssemos a casa ainda desconhecida onde iremos habitar durante mais uma (pequena mas significativa) parte da vida.

Seja onde for e com quem for,

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eu sou convicta e civilizadamente contra a pena de morte.
e
p.s. - Neste caso, a diferença é apenas uma: por esse mundo fora, a pena de morte é uma prática demasiado comum. A larguíssima maioria dos executados são anónimos e não integram o que, hoje em dia, designamos por caudal dos media. Saddam, ao invés, era um dos personagens centrais das várias narrativas diárias que nos entram em casa. À medida que o mundo omnipolitano se adensa, mais os factos reais são os factos reais e mais as meta-ocorrências dos media são apenas as meta-ocorrências dos media. E estas últimas tendem a significar precisamente o mesmo para nós que os relatos mitológicos antes significavam exemplar e didacticamente para os habitantes do mundo antigo e pré-moderno, baseado em referências de ascendência oral. É por isso que o caso Saddam vai fazer correr muita tinta. A indiferença apenas se coloca nos casos que se repetem e banalizam; aqui não, na medida em que estamos perante a aniquilação de uma vilão que protagonizava várias narrativas que ainda iam a meio. Para além desta espessura mediática - cada vez mais a essencial na actualidade -, há ainda a considerar a esfera política. Aí, temos uma fissura aberta que tenderá a moderar-se no Ocidente; já fora dele, duvido que a execução seja motivo de vitória. Ou seja, mesmo considerando que está em curso uma guerra no planeta - e eu considero que está - , não vejo nesta condenação nenhum passo em frente para deter o inimigo hiperterrorista. Nessa óptica, a execução aparece mesmo com algo lateral, senão mesmo como uma diversão. Uma perda de oportunidade. Um passo em falso.

CONCURSO ANO NOVO - 16


O Rapto das Sabinas, Nicolas Poussin, REA
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OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
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Título de um mau policial: “Terá a mulher raptada escapado ao pior?”
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PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
e
(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

A pensar em 2007

Mais um excerto do brevíssimo conto de ano novo que publicarei no último dia deste ano de 2006:
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Caroly Van Duyn
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O menino do urso
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(....) O tempo tinha cristalizado como salgema na gruta e apenas parecia dar de si quando a brisa empurrava, aqui e ali, as portadas pesadas das janelas. Um breve sobressalto a atravessar o olhar de soldadinho de chumbo que o menino respirava. Um longo pasmo a tecer o fôlego com que o menino temia, ao fim e ao cabo, este grande teatro da obscuridade.

CONCURSO ANO NOVO - 15


O Rapto das Sabinas, Valerio Castello, CGE
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OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
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E se Rute perguntasse: “Mas o verbo pegar não é tauromáquico?”
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PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Novas comunhões

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As novas tecnologias funcionam como uma absolvição (mais ou menos anestesiada) de todas as ansiedades. A simulação de co-presença e de partilha e empatia quase infinitas, que pode ser tão viva e autêntica nos blogues, é um exemplo maior de uma espécie de transcendência que se funde com o imediato no dia a dia. É por isso que o blogger se sente a viver com os outros, como se fizesse parte deles e os transformasse, a eles mas também a si próprio, numa novíssima mitologia ainda sem evangelho (em Blogues e Meteoros).

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(versão completa em Janeiro – agora todas as semanas – no Expresso online)
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Paisagens invisíveis: dados novos

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O Manuel Calado é meu amigo desde os dezasseis anos de idade e é, hoje em dia, professor da Faculdade de Letras de Lisboa. É um arqueólogo que se tem dedicado - inclusivamente no seu doutoramento - ao megalitismo da região de Évora na sua íntima relação com o megalitismo da Bretanha e da Grã-Bretanha. Para além de grande amigo, o Manuel Calado sempre fez do seu saber um instrumento de partilha com as comunidades onde trabalha. O Manuel é uma espécie de artista que olha para a paisagem como o fotógrafo olha para a luz. Faço hoje aqui publicar um texto seu que dá conta de recentíssimas investigações que fixam, com clareza e inovação, as grandes cidades da Idade do Ferro e do Bronze do actual Alentejo. A maior curiosidade do texto aponta para o facto de a actual Évora ter muito provavelmente surgido como uma repovoação com origem na já antiquíssima Evoramonte. A palavra a quem sabe (é um texto longo):
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"As paisagens invisíveis:
ou os 2700 anos do castelo de Évora Monte
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Manuel Calado
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Foram, recentemente, encerradas as comemorações dos 700 anos do Castelo de Evoramonte, iniciativa da C.M. de Estremoz que contou com a participação de diversas entidades, nomeadamente a Direcção Regional de Cultura e a Região de Turismo de Évora.
Tratou-se, sobretudo, de evocar a fundação do Castelo medieval, cujas muralhas envolvem, de uma forma muito visível, a vila antiga de Evoramonte apesar de a imagem mais marcante deste conjunto arquitectónico ser, naturalmente, a imponente torre quinhentista.
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Sabíamos, já há uns anos, que, antes da vila medieval tinha existido, no local, um castro proto-histórico de que dei notícia, com Leonor Rocha, num artigo publicado, em 1996, na “Cidade de Évora” sobre o “Bronze final no Alentejo Central”.
Neste artigo, fazia-se já referência à possibilidade de o castro ter ocupado uma área superior à da cerca medieval, com base na hipótese de os taludes que se observavam na encosta exterior à muralha poderem conter os restos das muralhas antigas. Na verdade, os materiais arqueológicos que permitiram tal conjectura resumiam-se a um fragmento de taça de fabrico manual, característica do final da Idade do Bronze ou inícios da Idade do Ferro, transição cuja cronologia, na região, pode chegar, em princípio, até aos finais do séc. VIII antes de Cristo. Os tais 2700 anos...
Entretanto, foram realizadas, em 2004, nas imediações da torre quinhentista, algumas sondagens arqueológicas de acompanhamento das intervenções arquitectónicas em curso nessa área.
Essas sondagens confirmaram, apesar da perturbação expectável das estratigrafias, a ocupação do Bronze final e identificaram materiais da Idade do Ferro, nomeadamente da fase de contacto com o mundo romano (cerâmicas campanienses). Atendendo à área onde foi efectuada, esta intervenção não adiantou (nem podia adiantar) qualquer dado sobre a extensão do povoado ou sobre o traçado e o estado de conservação da (ou das) muralha (s) proto-histórica (s).
Devo dizer que há anos eu próprio vinha adiando a operação que se impunha: uma observação atenta dos taludes que envolvem, em vários planos, o cabeço de Evoramonte e uma primeira caracterização cronológica, com base nos artefactos observados, à superfície.
As comemorações dos 700 anos do Castelo, deram-me o impulso e o motivo: escrevi um texto, na obra colectiva com o título “Um castelo de histórias”, em que, por sugestão do organizador, o meu amigo Dr. João Ruas, me vi obrigado a pensar de novo no Castelo de Evoramonte e nas questões que ele deveria levantar, em termos das paisagens invisíveis.
A oportunidade surgiu, curiosamente, na sessão de Encerramento das Comemorações: cheguei antes da hora, o dia estava convidativo e fui olhar para os taludes. A recolha de alguns materiais e o carácter dos taludes, obrigaram-me a regressar no dia seguinte e no outro. E o resultado não podia ser mais interessante, apesar de algumas imprecisões que só a escavação poderá certamente esclarecer.
Quanto à fundação, não podemos excluir um episódio calcolítico (III milénio a.C.), ou mesmo anterior. A presença esporádica de pedra polida, percutores de quartzo e seixos talhados de quartzito sugere que, num ou noutro grau, o local foi ocupado na pré-história recente. Note-se, aliás, que no alto de S.Gens, também na Serra d’Ossa, foram recentemente identificados, por Rui Mataloto, restos de uma muralha calcolítica, num sítio com posterior ocupação do Bronze final-1ª Idade do Ferro.
Por agora, em Evoramonte, fica apenas a hipótese.
Certo, porém, é que, no Bronze final, o recinto muralhado teria, pelo menos, cerca de 10 ha e que essa área foi ampliada, na 2ª Idade do Ferro, muito para além desse limite. A proposta que faço, mas que carece, em parte, de futura confirmação estratigráfica, implica, para o povoado pré-romano, na sua fase final, uma área que oscila entre os 15 e os 25 ha.
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É verdade que, do lado Leste (e, dentro deste, visivelmente, na parte Sul) a ocupação extra-muros da vila Medieval e Moderna perturbou profundamente eventuais depósitos arqueológicos anteriores. Esse fenómeno é particularmente observável na barreira que foi cortada pelo acesso moderno, onde a rocha de base foi regularizada em plataformas, sobre as quais foram erguidas construções cujas telhas assentam actualmente, na superfície da rocha.
No lado Oeste, porém, entra a capela de S. Sebastião e o Monte do Chafariz, onde quase não são visíveis os vestígios medievais/modernos, existem claras evidências de ocupação da 2ª Idade do Ferro relacionadas, aparentemente com dois dos taludes que acompanham as curvas de nível.
É notório que estes taludes foram aproveitados e “reconstruídos” com muros medievais ou modernos, ficando mesmo algumas dúvidas sobre se todos eles correspondem, ou não, a presumíveis muralhas proto-históricas; trata-se de questões que só a escavação pode vir a esclarecer.
A presença mais indiscutível de ocupação da Idade do Ferro, junto ao Monte do Chafariz, pode, de certo modo, ser relacionada com conhecida dificuldade de abastecimento de água na vila medieval intramuros e na integração, na Idade do Ferro, dessa reserva estratégica no interior do povoado.
Isto significa, antes de mais, que estamos perante um dos maiores centros urbanos da região, nos finais da Idade do Bronze (em parceria com o povoado fortificado do Castelo, no outro extremo da Serra d’Ossa), e, sobretudo, que, nos finais da Idade do Ferro, quando os romanos tomaram posse da região, Evoramonte era, de longe, o maior centro populacional.
Os outros povoados, actualmente conhecidos, da 2ª Idade do Ferro regional, têm, em geral, áreas que variam entre 0,5 ha e 5 ha (Castelo Velho das Hortinhas, Granja, Outeiro, Castelão de Rio de Moinhos, Castelo Velho de Veiros, Castelo Velho do Degebe) apresentando, aparentemente, o maior deles todos . o Castelo do Monte Novo, a Sul de Nossa Senhora de Machede - uma área próxima dos 8-10 ha.
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Um dos problemas historiográficos que a arqueologia urbana de Évora tem suscitado, nos últimos anos, é precisamente a questão da fundação da cidade e a relação desta com o topónimo. De facto, numa cidade romana com nome indígena, seria de esperar que as inúmeras escavações no centro histórico tivessem encontrado vestígios, mesmo que perturbados, da Ebora pré-romana, como se encontraram em Olisipo, em Scalabis, em Conimbriga, ou até, espantosamente, na romaníssima Pax Iulia. No entanto, esses vestígios primam, até agora, pela ausência: Évora parece, pois, ter sido fundada em época romana.
Num texto que publiquei, há uns anos, no volume, reunido pelo Luis Carmelo, sobre Évora, História e Imaginário (Ed. Ataegina), propus, com algumas reservas, que Evoramonte poderia, efectivamente, corresponder à Évora pré-romana, esvaziada e transposta para a localização actual, em época de Augusto, ou pouco antes.
As dimensões aparentes do povoado pré-romano, a presença de materiais romanos republicanos e a ausência de vestígios de época imperial parecem, agora, trazer um suporte factual, razoavelmente sólido, para a identificação de Evoramonte com a Ebora pré-romana.
Convém anotar que outra possibilidade, talvez menos plausível, seria a identificação de Evoramonte com a cidade de Dipo, um povoado indígena, atestada nas fontes clássicas, cuja localização se discute, mas que estaria algures entre Évora e Badajoz.
Em última análise, só a numismática ou, menos provavelmente, a epigrafia, poderão vir a lançar alguma certeza sobre a questão da identificação definitiva do topónimo pré-romano de Evoramonte.
Finalmente, para além de o significado regional de Evoramonte ter sido seguramente relevante, em época pré-romana – e, num certo sentido, podemos repetir uma observação que já fazíamos para o Bronze final - de que a serra d’Ossa funcionou, ao longo de toda a proto-história, como um centro de gravidade regional, recentrado em Évora, a partir da época romana.
É claro que não podemos excluir, já agora, a hipótese mais óbvia de que Evoramonte poderia ter recebido o nome, na Idade Média, por transferência a partir da Évora medieval.
Por enquanto, vamos manter em aberto as várias alternativas, sendo que Evoramonte, de uma forma ou de outra, foi, e conserva vestígios de ter sido, o maior povoado pré-romano no Alentejo central e que esse dado se relaciona, de algum modo, com a fundação de Ebora romana.
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Já agora, para além do Restaurante Convenção, onde me recompus das subidas e descidas à volta do cabeço, vale a pena subir a Evoramonte.
A torre, o Castelo, a vila medieval, a paisagem visível e, agora, as paisagens invisíveis (ou quase). Na verdade, em épocas não muito longínquas, alguns taludes foram transformados em azinhagas, meio abandonadas, por onde se pode circular com alguma facilidade, sugerindo trajectos à volta de Evoramonte antiga. É possível reconhecer, igualmente, ao longo dos interflúvios, os prováveis caminhos de acesso ao castro pré-romano. Com um olhar sobre a serra d’Ossa."

Um conto a pensar em 2007

Escrevi um brevíssimo conto de ano novo que publicarei no dia 31 deste mês. Deixo aqui apenas a entrada. Bons preparativos para a festa do ano de sete!
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O menino do urso
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Era uma casa em que os móveis estavam todos cobertos com panos brancos. Uma montanha de neve sob tectos recortados pela humidade e pela memória muito antiga dos passos ao longe (estrados que rangiam, degraus soltos, o soalho ao vento). Um torrão de açúcar a ocupar a respiração e o respigar com que o coração do menino se agitava.
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(continua)

CONCURSO ANO NOVO - 14


O Rapto das Sabinas, Picasso, MDA
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OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
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Modos de esquecer o passado: “E Deus escolheu o verbo pegar.”
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PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Medalha de ouro

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Já todos sabíamos que a “marca” é a percepção que as pessoas têm de um produto, serviço, empresa, ou até mesmo de uma pessoa. No entanto, para que a marca exista, é preciso, em primeiro lugar, colocá-la na mente das pessoas. É a esse processo que, tecnicamente, se chama “posicionamento”. Acontece que Ramos Horta deu ontem uma lição aos gurus e teóricos da publicidade sobre como posicionar. Qual Al Ries ou Laura Ries, qual Edward Bono, qual Floch ou Ugo Volli, qual quê! Fazer de Laden um irmão e filho do criador supera de longe a melhor Benetton dos anos 90. É deste modo inovador que, a poucos dias do final do ano, Ramos Horta acaba de ganhar a medalha de ouro de publicidade - 2006. Chapeau.

As próximas mini-entrevistas

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A partir da próxima Terça-feira, dia 2 de Janeiro, as Mini-entrevistas do Miniscente vão continuar.
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Abrem a primeira semana do ano de 2007 os seguintes bloggers: José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira e Madalena Palma.

CONCURSO ANO NOVO - 13


O Rapto das Sabinas, Rubens, BAU
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OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
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Talvez um romance: “E Deus pegou na cintura da mulher desaparecida.”
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PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Os meus romances deste ano

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Esta resenha vale o que vale, porque – geralmente – só consigo ler romances quando não estou a escrever e, sobretudo, se estou em férias das actividades ensaísticas (esse espaço que torna o mundo numa fantasia desprevenida). Seja como for, há romances que este ano me ficaram na pele – nem todos de 2006 – e há romances que este ano não consegui devorar (ou em que não consegui sequer entrar). Façamos, pois, o breve percurso.
O último Houellebecq tocou-me bastante e fez-me sonhar com um futuro ensaio sobre o território pós-humano. Creio que o génio do bretão reside em descarnar a ferida com um realismo e com um vitalismo extremamente actuais. Como curiosidade de uma certa relação com o corpo, não esqueço o facto de a tradutora, Isabel Aubyn, ter preferido sistematicamente, ao longo deste romance de Houellebecq, A Possibilidade de uma Ilha, o verbo “menear” e o substantivo “felação”, respectivamente, a “abanar” (a cabeça) e a “broche” (no sítio do costume).
Em segundo lugar, relevo O Mar do irlandês John Banville. Um bom livro, simples, mas de narração agilíssima. A história coloca em cena um protagonista claramente derrotado pelo objecto da sua própria memória. Como se as lembranças que se acamam no romance desarmassem o narrador face ao narrado: uma melancolia filha da desistência e não tanto do brilho ácido de um pranto (à Houellebecq, por exemplo) que saberia bem acompanhar. Seja como for, há poucos livros em que a poética da minúcia e um realismo solto e até mordaz acasalem de modo tão sereno.
Shalimar O Palhaço de Salman Rushdie é, com toda a certeza, um dos grandes livros do ano. Depois de o ler, voltei a concordar com quem afirma que apenas a imensa cobardia do Ocidente afasta Rushdie do Nobel. Nada mais. A entrada do romance reivindica o literário (a altivez adjectiva, o imperativo descritivo dos personagens, as interessantíssimas espirais narrativas, etc.) sem o dizer. É possível que as deambulações nos conduzam - aqui e ali - a uma certa exaustão, mas o modo como o desenlace é trabalhado desde o início, a par das pequenas-grandes sagas do terrorismo das últimas décadas, superam esses acenos de fôlego.
Outro romance que li de rajada, e que coloca como personagem principal o grande Fiodor, foi O Mestre de Petersburgo de J.M. Coetzee. Camus poderia ter escrito um outro Mito de Sísifo, se tivesse lido este livro. Tudo porque, no final do capítulo 9, Fiodor responde à filha da anfitriã do seguinte modo: "Ninguém se mata, Matriosha. Uma pessoa pode pôr a vida em perigo, mas não se pode verdadeiramente matar" (...) ou seja: "pergunta a Deus: Salvar-me-ás?; e Deus - neste caso - deu-lhe uma resposta. Deus disse: Não. Deus disse: Morre". No fundo, mesmo no suicídio, existe um espaço de possibilidades que se situa entre a situação de risco criada e a natureza, ainda que bizarra, de uma gratidão que se identifica com o próprio desfecho.
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De raiz bem diversa, O Fardo do Amor de Ian McEwan foi outra história excelente a que me entreguei em 2006, embora, deva confessar-se, já conte uns bons nove anos de vida. Os méritos do romance advêm da arquitectura do plot e da engrenagem ficcional que faz revolutear factos e situações inauditas. Tudo começa com um incidente puro e duro de onde depois emerge a força dos mal-entendidos e a singular inverosimilhança de um psicopata. Talvez o desenlace pudesse acusar uma toada um pouco mais abismada, ou tão-só inesperada.
Por fim, um Kundera que sempre me passou ao lado: A Ignorância (de 2000). Trata-se de um romance que toca todos aqueles que repartiram a sua vida por diversos lugares (o leitmotiv põe em jogo dois checos que, depois do fim do comunismo, procuram em vão a mitologia do Nostos, ou seja, da cruel miragem de um regresso dourado).
No lado negativo das minhas leituras romanescas, sublinho A Conspiração contra a América de Roth que li no início do ano. É o exemplo de uma grande ideia que depois não luz. Li-o e apaguei-o quase ao mesmo tempo. Também o romance biográfico Autor, Autor de David Lodge me cansou, embora por outras razões de que destacaria a aridez da linguagem e pesaroso tom ‘estilo Família Bellamy’.
De lado, semana após semana, foi ficando – na companhia de muitos outros, e se calhar injustamente – Donna Tartt. A ela voltarei, logo que puder.

CONCURSO ANO NOVO - 12


O Rapto das Sabinas, Carolum Collardum, BND
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OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
e
Sem perceber a lógica da coisa, teria dito: “Pegou-me e provavelmente evitou o pior.”
e
PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)
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Passadas 12 edições do CONCURSO ANO NOVO, restam-nos agora 11. Passámos a metade e é, portanto, altura de relembrar as frases já apresentadas (não esquecer que o objectivo do concurso é construir uma única frase a partir das várias frases que têm sido - e que continuão a ser - aqui apresentadas; como ajuda para desvendar a lógica e o nexo deste concurso, clicar AQUI):
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1 - Palavras que deve pronunciar esta semana: “Deus”, “escolha” e “cintura.”
2 - Verbos a evitar esta semana: “Pegar, colocar e agarrar.”
3 - Início de frase complicadas: “E Deus cumpriu o prometido.”
4 - Fim de frase a utilizar muitas vezes: “E pousou a mão na minha cintura.”
5 - Raciocínios estimulantes: “Pegou-me por baixo e sussurrou já não sei o quê.”
6 - A pronunciar em voz baixa: “E Deus pegou na coisa desejada.”
7 - Palavras a repetir às duas da manhã: “E Deus pegou na vela já acesa.”
8 - Frase a segredar em voz baixa: “Fê-lo com cuidado como se fosse pela cintura.”
9 - À vista desarmada: “A curva do rio parecia a cintura da jornalista.”
10 - Título de livro: “E Deus pegou-me pela alma.”
11 - Associação mental muito rápida: “E se a alma fosse parte do corpo?”
12 - Sem perceber a lógica da coisa, teria dito: “Pegou-me e provavelmente evitou o pior.”

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

CONCURSO ANO NOVO - 11


O Rapto das Sabinas, John Leech, WPD
e
OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
e
Associação mental muito rápida: “E se a alma fosse parte do corpo?”
e
PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

domingo, 24 de dezembro de 2006

Pré-publicações - 10

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José Barbosa Machado (ed.), História do mui nobre Vespasiano imperador de Roma, 2ª ed. revista e ampliada. Edições Vercial, Janeiro de 2007.
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Pré-publicação:
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"De como desesperou el-rei Arquileu e chantou a espada pelo coração. Capítulo .xxii.
e
E quando el-rei Arquileu viu que o imperador não no queria tomar em sua mercê, e viu que havia de entrar na cidade onde morriam de fome, assanhou-se consigo mesmo e diante de todos se desceu do cavalo e desarmou-se e tirou a espada. E como a tirou, disse: «Já a Deus não prazerá que eu vivo me ponha em vosso poder, nem em vossas mãos, nem tome cousa que a mim seja desonra.» E meteu a ponta da espada pelo meio do coração e deixou-se cair em cima dela e passou-lhe às espáduas e logo caiu morto em terra. E quando Pilatos viu que el-rei Arquileu era morto, foi mui triste e irado, e meteu-se na cidade sem pedir licença ao imperador, e ali fez grão dó pela morte del-rei Arquileu. E ao outro dia pela manhã, Pilatos fez ajuntar tôdolos cavaleiros da cidade e fez ali vir a José Jafaria e Barrabás seu mestre-sala por tomar seu conselho, e disse: «Senhores, bem vedes vós que nós não nos podemos ter [contra] o imperador, que Deus nos tem esquecido, e nenhumas viandas não temos nesta cidade, por[que] nunca tal tribulação foi e nenhuma [cidade] tal como esta.» E respondeu José e disse: «Senhor, em isto outro conselho vos não pode homem dar, pois o imperador não vos toma em sua mercê. E, senhor, deu-vos mau conselho aquele que vos disse que contra o imperador fôsseis, que bem podeis ver que contra o imperador vós não éreis igual, mas demandai-o àquele que mau conselho vos deu.» E disse Pilatos: «Isso não farei eu, mas façamos assim: aqui na cidade há aí muito tesouro e grande, de ouro e de prata e de pedras preciosas. E o imperador e as suas gentes cuidam de o haver todo. Mas não haverão nenhuma cousa. Pelo qual mando que o ouro e a prata seja limado e as pedras preciosas sejam moídas, e daquilo seja feita pólvora. E seja assim repartido, que tanto seja dado ao rico como ao pobre, e cada um coma dele sua parte. E o imperador nem tôdolos outros inimigos não no haverão.» E logo foi feito. E dês que foi tudo comesto, vieram diante de Pilatos e disseram: «Senhor, feito temos teu mandado; manda o que façamos.» E quando Pilatos isto ouviu, começou mui fortemente de chorar, e disse diante de todos: «Senhores, vós outros me estabelecestes que fosse governador. Bem sabeis todos que da primeira eu era adiantado do honrado César Augusto, imperador de Roma, ao qual fazia certo tributo e o tinha por senhor e vós outros todos. E agora, por mau conselho, alcei-me contra Vespasiano seu filho, donde por este pecado e pela traição que foi feita e consentida na morte daquele santo profeta, que bem vos deve lembrar que tais sinais fez no dia em que morreu, e antes que morresse disse pela sua boca no dia de Ramos todos estes males que agora são, não são cumpridos, mas creio que ainda se cumprirão; que já parece cada dia, pois eu não creio que possa escapar de morte. Vós outros porventura escapareis; rogo-vos por Deus que me queirais perdoar se porventura a algum de vós outros fiz algum nojo.» E os cavaleiros e o povo, quando ouviram estas palavras, foram muito turvados, em tal guisa que nenhum não pôde falar nem responder, tão fortemente choravam que sabiam que haviam de ser todos destruídos. E Pilatos disse: «Barões, outro conselho eu não vejo nem vos posso dar, senão que nos demos ao imperador e estejamos à sua mercê, que porventura alguns escaparão, que melhor é que morrermos todos de fome.» E todos tiveram por bom o conselho de Pilatos, e disseram que melhor seria estar à mercê do imperador que morrer de fome. E ao outro dia Pilatos e tôdolos outros pela manhã saíram fora da cidade e foram à vala que estava derredor do muro. E Tito andava cavalgando com muitos cavaleiros, e Pilatos fez-lhe seus sinais com as luvas que trazia nas mãos. E quando Tito o viu, veio com seus cavaleiros adiante onde Pilatos o viu. E Pilatos começou a dizer a Tito: «Senhor, seja vossa mercê que rogueis ao imperador, vosso padre e meu senhor, que haja mercê de mim e de todo este povo, e não pareis mentes às nossas maldades.» E isto lhe dizia chorando fortemente. E Tito enviou dous cavaleiros ao imperador que lhe dissessem as palavras em que Pilatos estava com ele. E quando o imperador ouviu isto, fez armar dous cavaleiros e cavalgou e veio onde estava Tito seu filho. E começou Tito a dizer ao imperador: «Senhor, sabei que Pilatos vos quer entregar a cidade com condição que o filheis em vossa mercê.» E o imperador lhe respondeu: «Filho, não é agora tempo de pedir mercê, que o faz porque não pode mais fazer.» E o imperador olhou mentes que fazia Pilatos e disse-lhe isto: «Se tu me quiseres entregar a cidade com todos os Judeus que dentro são para fazer nossas vontades, eu a tomarei. E digo-te que tão pouco haverei mercê de ti nem dos outros, como vós houvestes do santo profeta Jesus Cristo, o qual vós outros acusastes falsamente à morte, e os maus Judeus o enclavaram na cruz, pelo qual vos digo que já mercê não achareis em mim.» E quando Pilatos isto ouviu, foi mui triste ele e tôdolos outros, e disse ao imperador: «Senhor, tomai a cidade e tudo quanto em ela está e seja vossa mercê feita à vossa vontade.» Quando o imperador viu que de todo em todo Pilatos se punha em seu poder, fez cercar as valas derredor por que nenhum judeu não pudesse sair. E mandou entrar até quatro mil cavaleiros na cidade, e mandou-lhes que cerrassem as portas todas, e que nenhum judeu não deixassem sair nem outras cousas. E então Pilatos se tornou e tôdolos outros à cidade. E Tito entrou na cidade com grande cavalaria e entraram com ele Jacob e Jafel por ordenar a cavalaria, que era mui grande. E Tito tomou Pilatos pela barba e encomendou-o a dez cavaleiros que o guardassem mui bem. E Jacob tomou a José Jafaria e Jafel, e porque era bom cavaleiro, foi tomar Barrabás, mestre-sala de Pilatos. E dês que tudo isto foi feito, o imperador entrou em Jerusalém e mandou que todos os Judeus fossem presos e bem atados, e que logo os trouxessem diante dele, e logo foi feito, e disse às suas gentes: «Pois que a cidade é em nosso poder, nós queremos fazer almoeda dos Judeus que estão aqui. Como eles venderam ao santo profeta Jesus Cristo, o qual é saúde da nossa enfermidade, assim como o venderam por trinta dinheiros, nós queremos vender trinta Judeus por um dinheiro. Quem quiser mercar, merque por um dinheiro.» E então veio um cavaleiro e disse ao imperador: «Senhor, eu tomarei um dinheiro se vos aprouver.» E o imperador mandou que lhe dessem antre homens e mulheres e crianças trinta por um dinheiro. Mas foi ventura de um cavaleiro que houve todos os Judeus que eram grandes e valentes. E dês que os tinha recebidos, levou-os à sua tenda. E depois que os teve aí, deu com a sua espada um golpe pelo ventre e matou um judeu e logo caiu em terra morto. E ao tirar da espada, saiu do ventre do judeu ouro e prata. E o cavaleiro ficou muito maravilhado do que viu, e tomou adeparte um dos outros Judeus que lhe pareceu mais velho e disse-lhe: «Dize-me tu que será isto, que eu nunca vi em corpo de homem morto, judeu nem doutra pessoa, que saísse ouro nem prata senão deste.» E o judeu disse: «Senhor, se tu me segurares a vida, eu to direi.» E o cavaleiro segurou ao judeu de morte, e o judeu contou-lhe como lhes mandara Pilatos comer todo o tesouro que estava na cidade e as pedras preciosas, por que o imperador nem a sua gente não no houvessem nem se servissem dele. «E esta é a razão porque tu achaste no corpo deste judeu morto ouro e prata. E saberás que tanto dava de comer ao pobre como ao rico.» E quando o cavaleiro soube isto, mandou a dois escudeiros que matassem os vinte e oito Judeus e que não tocassem naquele judeu que tinha seguro, mas que o guardassem bem. E dês que os vinte e oito Judeus foram mortos, mandou-os abrir pelo ventre e tiraram tanto de ouro e prata que foi maravilha. E logo foi sabido por toda a hoste do imperador que os Judeus estavam cheios em seus corpos de ouro e prata, porque todo o tesouro da cidade tinham comido. E vereis vir cavaleiros e outras pessoas muitas correndo à cidade para mercar dos Judeus e cada um dizia: «Senhor, vende-nos sequer um por um dinheiro.» E cada um tanto que os tinha mercados, matavam-nos por tirar o tesouro que tinham. E daí a poucas horas se ajuntou tanta gente que era sem conto, e havia maior pressa naquilo que parecia taverna de bom vinho, ainda que o dessem de graça. E cada um, assim como o mercava, assim o matava por tirar deles o tesouro. Mas por muito mau houveram o conselho de Pilatos, porque lhes fez comer o tesouro, que muitos escaparam da morte e por esta razão morreram. E quando o imperador viu a grão pressa dos mercadores, mandou que dali adiante não vendessem mais até que soubessem quantos deles haviam de vender. E o seu mestre-sala os fez contar e, dês que foram contados, disseram ao imperador: «Senhor, sabede que antre homens e mulheres e criaturas são os que ficam por vender cento e oitenta, que valem seis dinheiros, tantos vos sobejam e mais não.» «Pois – disse o imperador –, não vendam mais; fiquem estes, porque a paixão do filho de Deus seja relembrada melhor, e porque em todo tempo as gentes que virem chamem traidores, porque mataram o santo profeta Jesus Cristo; assim como eles deram ao senhor maior por trinta dinheiros, bem assim tenho dado trinta Judeus por um dinheiro. E estes Judeus que ficam sejam para mim e guardai-os bem.» E cumprida foi a ocasião do povo naqueles que foram vendidos trinta Judeus por um dinheiro. E foram os vendidos por conta quarenta mil pessoas ao menos de quantos jaziam mortos e esquartejados pela cidade, que não podiam andar senão sobre mortos. Mas dês que tudo isso foi feito, o imperador mandou que todos os mortos fossem enterrados, porque, enquanto estivessem na cidade, não houvesse aí fedor. E logo foi feito, porque as gentes o tinham na vontade; e cada um fazia quanto podia."
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Actualização das editoras que integram o projecto de pré-publicações do Miniscente: A Esfera das Letras, Antígona, Ariadne, Bizâncio, Campo das Letras, Colibri, Guerra e Paz, Magna Editora, Magnólia, Mareantes, Publicações Europa-América, Quasi, Presença e Vercial.

CONCURSO ANO NOVO - 10


O Rapto das Sabinas, Nicolas Poussin, REA
e
OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
e
Título de livro: “E Deus pegou-me pela alma.”
e
PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

sábado, 23 de dezembro de 2006

Votos de Bom Natal

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Na próxima semana útil (de Terça-feira, dia 2/1/07, ao sábado, dia 6/1/07), as mini-entrevistas a publicar no Miniscente serão as seguintes: José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira e Madalena Palma.
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Tal como as mini-entrevistas, que descansam a partir de hoje, também a rubrica de pré-publicações cumpre uma breve pausa, embora se reinicie - e com grande caudal - já no início de Janeiro.
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O "Concurso de Ano Novo", esse, fica no ar ao longo de toda a Quadra.
e
Aproveito para vos desejar um bom Natal!

CONCURSO ANO NOVO - 9


O Rapto das Sabinas, Valerio Castello, CGE
e
OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
e
À vista desarmada: “A curva do rio parecia a cintura da jornalista.”
e
PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
e
(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

Mini-entrevistas/Série II – 88


LC
e
O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é João Morgado Fernandes (http://frenchkissin.blogspot.com/).
e
- O que é que lhe diz a palavra "blogosfera"?
Basicamente, um universo em expansão. À semelhança do que acontece com o outro universo, fico sempre na expectante sobre a possibilidade de haver vida interessante para lá dos meus horizontes. É um universo sempre em expansão e, quanto mais se conhece, mais há para conhecer. Por deformação profissional, a minha galáxia é mais a dos blogues políticos, mas estes são quase a reprodução fidedigna dos media tradicionais, com os seus analistas, as suas cartas dos leitores... Os melhores textos, no entanto, encontrei-os noutras galáxias, por exemplo na dos blogues mais intimistas.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Tudo o que mexe (e às vezes até o resto...) me interessa. Os blogues são um excelente ponto de observação sobre o mais óbvio - respondendo à sua questão, a guerra do Iraque terá sido o acontecimento em que mais estive atento na blogosgfera -, mas também sobre aquilo que os media tradicionais não querem ou não podem abordar. Há tendências de moda, de gosto, de opinião, que detecto com mais facilidade nos blogues.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Vários. Por exemplo, a compra de dois portáteis (a coisa contagiou-se cá em casa...). Enfim, os blogues tomam tempo. Leio muitos. E também escrevo alguma coisa, mas felizmente são textos quase automáticos. Obviamente, há noites mal dormidas, mais no passado que no presente, mas também há alguns ganhos - lendo nos sítios certos, tenho autênticas súmulas da actualidade, com links para textos interessantes que, de outra forma, me passariam ao lado.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
A escrita, tal como o resto do que somos e fazemos, é sempre uma construção. Nessa medida, a expressão é tão livre ou condicionada nos blogues como noutros sítios. Os limites dos blogues não são muito diferentes do mundo lá fora: a lei, o bom senso... Penso que essa ideia de liberdade bloguística radica na premissa da ausência de intermediação, de editor. Na verdade, nos media tradicionais, há sempre trabalho colectivo (é mais isso do que hierarquia ou edição, ao contrário do que muitas pessoas pensam...), e nos blogues estamos mais entregues a nós próprios. A minha experiência pessoal diz-me, porém, que, precisamente por isso, sou muitas vezes mais cuidadoso no blogue - aqui, o que eu faço bem ou mal depende quase exclusivamente de mim. E, nessa medida, a escrita do blogue até acaba por ser mais editada do que a do jornal, por exemplo. E a auto-edição é sempre mais trabalhosa e rigorosa do que a edição - de resto, só assim se explica que tenhamos alguns blogues de tão grande qualidade em Portugal.
e
Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins, Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima e Pedro Fonseca. Agenda para esta semana (de segunda-feira, dia 18/12, ao sábado, dia 23/12): Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota e João Morgado Fernandes.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Informação e Votos

e
Na próxima semana útil (de Terça-feira, dia 2/1/07, ao sábado, dia 6/1/07), as mini-entrevistas a publicar no Miniscente serão as seguintes: José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira e Madalena Palma.
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Tal como as mini-entrevistas, que descansam a partir de amanhã (após a prestação de João Morgado Fernandes), também a rubrica de pré-publicações cumpre uma breve pausa, embora se reinicie - e com grande caudal - já no início de Janeiro.
e
O "Concurso de Ano Novo", esse, fica no ar ao longo de toda a Quadra.
e
Aproveito para vos desejar um bom Natal.

CONCURSO ANO NOVO - 8


O Rapto das Sabinas, Picasso, MDA
e
OBEJCTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
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Frase a segredar em voz baixa: “Fê-lo com cuidado como se fosse pela cintura.”
e
PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
e
(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

Mini-entrevistas/Série II – 87


LC
e
O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje a convidada é Carlota (http://www.lote5-1dto.blogspot.com/).
e
- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
É mais um “sítio” onde posso ir, mas à hora que me der mais jeito e da forma que melhor me aprouver. Vejo a blogosfera como sendo uma espécie de uma moderna sociedade recreativa que me permite trocar impressões com pessoas com as quais nunca me cruzaria no meu rotineiro dia-a-dia, criar afinidades com estranhos aos quais provavelmente nem sequer sorriria, soltar gargalhadas em conjunto sem trocar olhares e, às vezes, comover-me sem o pudor de deixar escapar uma lágrima.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Nunca sigo esse género de acontecimentos através de blogs. Prefiro acompanhá-los através de fontes de informação “pura e dura”, profissionais e obrigadas a cumprir regras deontológicas. Interessam-me mais os factos do que saber o que os bloggers pensam acerca deles. É por isso, também, que tenho especial preferência por blogs tendencialmente pessoais.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Deixei de fazer algumas das coisas que fazia antes, passando a estar (ainda) mais tempo em frente ao computador. Passei a sentir uma obrigação de escrever qualquer coisa diariamente e, sobretudo nos primeiros meses do blog, a minha vida girava à volta dessa obrigação. Agora, felizmente, esse impacto já é menor.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Não. Salvas raríssimas excepções, cuja maioria se refugia no anonimato, acho que toda a gente se auto-censura num ou noutro assunto. Umas vezes por pudor, outras porque há favorzinhos que se devem e outras porque há portas que não se devem trancar, não vá no futuro ser necessário abri-las.
e
Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins, Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima e Pedro Fonseca. Agenda para esta semana (de segunda-feira, dia 18/12, ao sábado, dia 23/12): Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota e João Morgado Fernandes.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Dantes dizia-se Salazar

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Dei-me ao trabalho de ler toda a “Deliberação 1-I/2006” do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social sobre um conhecido texto de Eduardo Cintra Torres. Uma seca e um desgaste terrível. É um tratado imenso que está na linha de fronteira entre algumas teses académicas inúteis e a ostensão do peso almofadado como forma de zelo administrativo. Para além da óbvia vontade incriminatória e ficcional que respira (acentuada num comunicado público da própria ERC), é sobretudo esse posicionamento gongórico e árido que me intriga e que melhor reflecte uma certa intemporalidade portuguesa.
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É verdade que, em De Profundis, Oscar Wilde confessava abertamente que o principal valor da paixão de Cristo era estético e que o próprio triunfo do Cristianismo no Ocidente se ficava a dever mais a esse factor estético do que a qualquer outro paradigma moral. O espírito desta resolução da ERC (muito semelhante à tentação da panóplia “pedagógica” que dá pelo nome de TLEBS, sobretudo pela sua extensão e desfasamento) parece também basear-se na grandiloquência e no fardo estético e inflamado do altar barroco, como se bastasse a largura da cauda do pavão para impressionar, converter e convencer o indígena. Por mim, não existia qualquer entidade reguladora para o que se costuma traduzir como sendo a “comunicação social”.
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Na blogosfera existe uma auto-regulação que nem sempre tem a espessura que se desejaria. O cenário das escritas em rede vai de facto muitas vezes reinventando o próprio sentido da liberdade, na medida em que os limites que se lhe colocam são voláteis e indetermináveis (não deixa de ser interessante consultar as mini-entrevistas que tenho levado a cabo no meu blogue sobre este tema). Seja como for, um dos milagres que a rede está a criar, não apenas em Portugal, é a lenta condenação à morte deste tipo de persuasão estilo ERC que funciona pela quantidade, pela magnitude do verbo e, enfim, pela veia bíblico-danielítica.
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Para que este tipo de controlo estilo ERC se pudesse, um dia, estender do campo dos media clássicos aos múltiplos interfaces da rede, incluindo os blogues, era preciso que cada um de nós tivesse acoplado a si um regulador. E era depois preciso que o ouvíssemos a serrazinar os nossos ouvidos, tal como os profetas antigamente ouviam os seus deuses. Esse tempo está a passar, felizmente. À parte certas excepções, como a China e outras trovoadas negras do planeta, as vozes e os alardes que se ouvem, hoje em dia, têm cada vez mais origem num único bardo que é, ao mesmo tempo, autor, editor, regulador e leitor. Dantes, estas tentações resumiam-se a uma só palavra: “Salazar”. Até na cozinha.
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CONCURSO ANO NOVO - 7


O Rapto das Sabinas, Rubens, BAU
e
OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
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Palavras a repetir às duas da manhã: “E Deus pegou na vela já acesa.”
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PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
e
(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

Mini-entrevistas/Série II – 86


LC
e
O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Américo de Sousa, Professor/Investigador/Empresário (http://retorica-pt.blogspot.com/).
e
- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Vejo a blogosfera, em primeiro lugar, como um espaço informal de edição que veio alargar extraordinariamente a esfera de intervenção pública do cidadão; depois, como um lugar relativamente organizado - e, mais do que isso, organizável - onde se pode encontrar muita opinião ou comentário, bastante literatura e algumas notícias (que, em caso de dúvida, podem facilmente ser validadas junto de fontes da web mais idóneas); por último, como instância propiciadora de novos contactos pessoais.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Nenhum.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
O alargamento do número de pessoas qualificadas com quem passei a trocar ideias e a debater (fora do blogue, por email ou telefone) sobre os temas que mais me interessam
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Interrogo-me se haverá alguma forma de expressão editorial verdadeiramente livre. Mas a haver, certamente que não será a Blogosfera. Se editar livremente for editar de acordo com a minha vontade, basta uma falha técnica no Blogger, ou em qualquer outro programa de edição na web, para ficar privado de me expressar. Além disso há também, e sobretudo, a questão da responsabilidade e do risco que cada um pode assumir. Se começo a escrever algo que numa segunda leitura reparo que me pode trazer problemas em que não estou disposto a envolver-me, o mais certo é apagar esse post ou modificá-lo. Não sou livre, portanto. Tomara que, ao menos, fosse possível ser independente. Mas nem disso estou certo, por razões análogas às atrás aduzidas. É claro que sempre se pode dizer: "És livre, sim. És livre de te quereres sujeitar ou não às consequências práticas do que escreves". Mas a pergunta não se dirige, por certo, a essa liberdade-resíduo que sempre permanece em todos e em cada um e que faz com que perante uma arma apontada à cabeça, à ameaça de "a bolsa ou a vida!", sempre se possa ser "livre" de preferir a bolsa...
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Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins, Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima e Pedro Fonseca. Agenda para esta semana (de segunda-feira, dia 18/12, ao sábado, dia 23/12): Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota e João Morgado Fernandes.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Dois por cento?

e
Hoje tive tempo de passar por alguns bancos e de me informar acerca da natureza dos PPRs. Acabei por fazer um, não digo onde. Apenas refiro que a larga maioria da oferta penaliza o futuro reformado com uma taxa de 2% sobre as entregas mensais. Não sei porquê, mas creio que existe algo de estranho nessa percentagem, até porque o "produto" em causa visa um futuro relativamente distante, o que significa que o dinheiro investido acabará por se entregar a um mais do que previsível pas de deux na manjedoura do banco.

CONCURSO ANO NOVO - 6


O Rapto das Sabinas, Carolum Collardum, BND
e
OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
e
A pronunciar em voz baixa: “E Deus pegou na coisa desejada.”
e
PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
~e
(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)

Mini-entrevistas/Série II – 85


LC
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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é João Paulo Meneses, jornalista, 40 anos (http://ouve-se.blogspot.com/).
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- O que é que lhe diz a palavra "blogosfera"?
Ágora; democracia; criação; independência; utopia; inclusão; partilha; acesso livre;
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Por um lado, por questões profissionais, não há acontecimentos que possa seguir apenas por blogues; por outro os blogues que leio são essencialmente de media ou metamedia. Dois exemplos: i) a identificação, por parte da comunicação social, de menores vítimas de abusos sexuais; ii) a manipulação da informação e o abuso de fontes anónimas;
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Os blogues marcam a minha agenda, mais pelo lado do redactor do que do leitor. Tento encontrar 15 minutos no mínimo para os blogues e sinto-me penalizado quando não o consigo. Os blogues vivem e também me controlam.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Sim, sem dúvida. Se quisermos que seja, será!
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Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins, Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima e Pedro Fonseca. Agenda para esta semana (de segunda-feira, dia 18/12, ao sábado, dia 23/12): Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota e João Morgado Fernandes.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Mini-entrevistas/Série II – 84


LC
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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é João Aldeia (http://puraeconomia.blogspot.com/).
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- O que é que lhe diz a palavra "blogosfera"?
A blogosfera é um espaço de comunicação e intercâmbio de informações e ideias. Vítima do seu próprio sucesso, está a tornar-se demasiadamente grande para ser navegada, mas essa é a maldição da modernidade em todos os domínios da actividade humana.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
A catástrofe do furacão Katrina.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
O "roubo" de uma importante fatia do dia; entretanto, depois de uma fase de crescimento, já consegui tornar-me menos dependente da blogosfera.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Acredito que sim. Há certamente condicionamentos, mas a liberdade é sempre um conceito relativo (experimentem libertar-se da lei da gravidade, e compreenderão).
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Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins, Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima e Pedro Fonseca. Agenda para esta semana (de segunda-feira, dia 18/12, ao sábado, dia 23/12): Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota e João Morgado Fernandes.

CONCURSO ANO NOVO - 5

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OBJECTIVO: CONSTRUIR A FRASE CERTA A PARTIR DAS VÁRIAS INSTRUÇÕES com esta cor QUE VÃO SENDO DADAS ATÉ AO DIA DE REIS (SÁBADO, DIA 06/01/07).
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Raciocínios estimulantes: “Pegou-me por baixo e sussurrou já não sei o quê.”
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PRÉMIO: TRÊS LIVROS (DISPONÍVEIS) DO AUTOR DO MINISCENTE ESCOLHIDOS PELO PRÓPRIO VENCEDOR (AQUELE QUE DESCOBRIR A FRASE EM PRIMEIRO LUGAR ).
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(este concurso tem a duração de 23 dias: de 15 de Dezembro de 2006 a 6 de Janeiro de 2007 – respostas permanentes para luis.carmelo@sapo.pt)