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quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Mini-entrevistas/Série II – 61


LC
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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Tiago Barbosa Ribeiro, sociólogo (http://kontratempos.blogspot.com/ e http://ppresente.blogspot.com/).
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- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
O conceito de ‘blogoesfera’ remete-me para uma multiplicidade de redes e interdependências que se cruzam nesse espaço pleno de dinamismo que são os blogues, embora hierarquizando-se internamente. Exercendo-se numa lógica tutelar de democracia radical, a blogoesfera alimenta-se de várias blogoesferas que não têm a mesma visibilidade nem a mesma legitimidade. É algo difícil de ultrapassar, na medida em que o progressivo alargamento de um mapa diário de blogues exigirá mais de nós naquilo que é porventura o nosso bem mais escasso: o tempo. Daí que exista um núcleo central de blogues que são em larga medida a blogoesfera, alheia aos milhares de blogues que chegam todos os dias à rede. Esses blogues estão quase todos associados à produção de opinião social e política, citando-se mutuamente e limitando a projecção de novos blogues. É algo perceptível, para o que também contribuo de uma forma ou de outra, mas não sei se isso será negativo em si mesmo porque não há aqui qualquer filtro que imponha essa direcção. Decorre do entendimento dos autores já existentes sobre a qualidade de um novo blogue e da capacidade que ele tenha de se afirmar nos debates em curso. Não basta a alguém criar um blogue para entrar na blogoesfera, há que ser lido. E se é certo que alguns dos bloggers mais conhecidos o são pela capitalização de uma imagem que já detinham noutros domínios sociais, é líquido que muitos outros se afirmam a partir do seu interior. Acredito que um bom blogue terá sempre leitores, sobretudo entre os outros bloggers. Ou a partir deles.
- Seguiu algum acontecimento nacional ou internacional através de blogues?
Exclusivamente, não. E provavelmente nunca o farei, porque não é esse o potencial que neles quero explorar. Interessa-me menos uma tradução factual da realidade, em registo meramente informativo, do que reter os vários eixos que essa realidade me pode oferecer no âmbito de uma opinião livre e bem informada. Há muito que os blogues são parte inalienável das minhas leituras diárias sobre o real, mas não creio que os blogues possam ter -- ou sequer devam -- qualquer lógica concorrencial em relação à generalidade da imprensa clássica. Esse preconceito, aliás, está instalado em alguma imprensa. O que importa salientar é que os blogues têm um papel crítico, de problematização e questionamento, que supera em muito aquilo que os jornais têm para oferecer isoladamente. E aí os jornais deveriam estar mais abertos a tudo o que a blogoesfera propicia em diálogo com eles, porque é sobretudo no domínio da opinião e de ruptura com as lógicas viciosas do «senso comum esclarecido» que a blogoesfera é imprescindível para qualquer actor atento da nossa esfera pública actual.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Talvez na gestão do tempo quotidiano. Passei a integrar os blogues nos meus hábitos diários: quer ao nível das leituras, quer ao nível da produção de conteúdos.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Formalmente, sim. Não existe virtualmente ninguém, nas nossas sociedades democráticas, que não possa abrir um blogue e publicar o que bem entenda. Claro que isso possui uma dupla direcção, porventura perversa, mas que sempre existiu em todas as outras plataformas de edição prévias à rede mundial de computadores: o anonimato. Multiplicam-se os rasgos de bloggers anónimos que «denunciam» episódios obscuros, processos judiciais, plágios literários, conspirações políticas e outras urdiduras mais ou menos fantasiosas. Isso não deve ser confundido com bloggers que, pela sua posição específica (profissional ou outra), necessitam de um pseudónimo para publicar os seus posts. Evidentemente, não há forma de controlar conteúdos escritos sob anonimato que lançam anátemas e que minam o debate, como de resto senti personalizadamente pelas posições que tomei durante a recente ofensiva de Israel contra o Hezbollah. Talvez a indiferença seja uma boa forma de lidar com esses epifenómenos e, pela minha parte, nunca cito ou referencio a ligação para blogues dessa natureza.
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Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins e Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres e José Pedro Pereira. Agenda desta semana (20/11 a 25/11): Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira e Leandro Gejfinbein.