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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é José Bragança de Miranda, Professor Universitário (ex- Reflexos de azul electrico I e II).
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- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
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- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Diria que é um acrescento do espaço da escrita, em que esta pode ser iluminada pela imagem ou pelo som. O que implica uma alteração de estilo, e desejavelmente do pensar. Mas como todo o acrescento, pode ser mais do mesmo - o da confiscação da palavra por especialistas dos jornais ou dos media -, justamente aquilo de que nos fomos afastando; ou pode abrir para algo de «novo», um confronto com os nossos próprios limites e forças.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Durante algum tempo, não muito, o único acontecimento que reteve a minha atenção nos blogues foram os próprios blogues, que acompanhei in loco e com interesse. Tenho para mim que não existem acontecimentos, tudo o que tinha que acontecer já aconteceu, tratando-se apenas de captar os seus sinais. Nos media existem notícias mas não acontecimentos, mas também se poderia dizer que não existem acontecimentos, mas o «acontecer» ou então um único acontecimento, em curso, que passa por... cada um.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Fui para os blogues por razões egoístas. Numa certa altura, em que esperava algo, nada de demasiado importante e que já quase esqueci, senti-me incapaz de escrever algo de longo e de seguido, e os blogues surgiram-me como uma válvula de escape. Seduzia-me neles a escrita ligeira, curta, sem compromisso. Trata-se de escrever distraídamente ou para estar distraído. Comecei depois a dar-me conta de que os posts diários, e esse é o desafio, o site meter, os outros blogues, amigos e inimigos, se tornavam demasiado pesados. Desisti dos blogues porque exigiam um dispêndio de forças que me esgotava. Como sucede sempre que me canso, mudo de vida e lá os abandonei. Não me lembro de ter revisitado nenhum desde então.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Como em todas as «formas» e «expressões» existem constrangimentos técnicos e estilísticos. A questão não está aí. Talvez o maior problema da blogosfera seja conseguirmos libertar-nos de nós próprios, das nossas ilusões e do nosso desejo de sermos «amados». O subjectivismo desabrido que os blogues propiciam parece-me uma verdadeira ameaça, que também me atingiu, claro. Mas no anonimato, longe da «fábrica do nome», como dizia Elias Canetti, surgem oportunidades fantásticas, que os blogues eventualmente reforçam. Sem evitarem um paradoxo: o sucesso nos blogues constitui o maior perigo, que se volta contra eles. Basta olhar para alguns bloggers que pareciam livres, escravizados mal conseguem pôr a render a mais-valia dos blogues nos jornais e na televisão. As graças forçadas são uma violação da graça.
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Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins e Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves e José Bragança de Miranda. Agenda da próxima semana (13/11 a 18/11): João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres e José Pedro Pereira.