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O discurso sobre o futebol é necessariamente um discurso apaixonado, de arroubo. Não se poderia nunca falar e viver o futebol com um discurso baseado no Logos. O futebol é uma asa aberta que convoca o Mito e o Pathos, mas nunca o Logos. Quem não o entender – e estará no seu legítimo direito – age como se estivesse a falar pausadamente sobre a poesia de Eugénio de Andrade nos minutos que precedem uma final da Taça de Portugal no Jamor. Imagine-se o que seria. Vem isto a propósito dos jogos inquinados. No fundo, não há jogo – mesmo se o jogo for de linguagem - que não seja inquinado, isto é: pulverizado por mal-entendidos, por pequenas ou grandes rasteiras, por fingimentos e sobretudo por violação ou oscilação das regras (é essa a base da criação de sentido). No futebol, no entanto, tudo se amplia. E quem gosta do desporto rei já sabe que, quando se entra num estádio, fisicamente ou por outros meios (áudio ou TV), os códigos que moldam apupos e encómios são de uma natureza totalmente diferente daqueles que se respiram no ‘outro lado’ da vida. Embora as coisas se toquem. Tocam-se sempre, aliás. No Portugal-Rússia em duas mãos que ontem terminou houve vantagens ilegais simétricas: no primeiro jogo, os russos beneficiaram de uma estranha expulsão na equipa adversária e de uma grande penalidade duvidosa; no segundo jogo, os portugueses beneficiaram de uma estranha expulsão na equipa adversária e de uma grande penalidade duvidosa. No final, venceu quem marcou um golo fora: foi essa a regra que aparentemente imperou. De um modo frio – escalonando argumentos e aspirando a conclusões tendo como base apenas o raciocínio (i.e., recorrendo ao Logos) – dever-se-ia colocar no centro da análise esta bizarra simetria e o modo como os árbitros (de Chipre e da Holanda, respectivamente) se comportaram e porquê. Mas como não é essa a lógica do discurso do futebol, ficamo-nos pelo tom épico e de panegírico. Como passou a ser moda afirmar nos últimos anos: “É assim”. (confissão final parentética: curiosamente, no meu caso, consigo ser bastante frio na análise dos jogos de selecções, mas vibro com efusão e puro Pathos no futebol de clube sempre que o meu, o inevitável “Glorioso”, entra em cena).
O discurso sobre o futebol é necessariamente um discurso apaixonado, de arroubo. Não se poderia nunca falar e viver o futebol com um discurso baseado no Logos. O futebol é uma asa aberta que convoca o Mito e o Pathos, mas nunca o Logos. Quem não o entender – e estará no seu legítimo direito – age como se estivesse a falar pausadamente sobre a poesia de Eugénio de Andrade nos minutos que precedem uma final da Taça de Portugal no Jamor. Imagine-se o que seria. Vem isto a propósito dos jogos inquinados. No fundo, não há jogo – mesmo se o jogo for de linguagem - que não seja inquinado, isto é: pulverizado por mal-entendidos, por pequenas ou grandes rasteiras, por fingimentos e sobretudo por violação ou oscilação das regras (é essa a base da criação de sentido). No futebol, no entanto, tudo se amplia. E quem gosta do desporto rei já sabe que, quando se entra num estádio, fisicamente ou por outros meios (áudio ou TV), os códigos que moldam apupos e encómios são de uma natureza totalmente diferente daqueles que se respiram no ‘outro lado’ da vida. Embora as coisas se toquem. Tocam-se sempre, aliás. No Portugal-Rússia em duas mãos que ontem terminou houve vantagens ilegais simétricas: no primeiro jogo, os russos beneficiaram de uma estranha expulsão na equipa adversária e de uma grande penalidade duvidosa; no segundo jogo, os portugueses beneficiaram de uma estranha expulsão na equipa adversária e de uma grande penalidade duvidosa. No final, venceu quem marcou um golo fora: foi essa a regra que aparentemente imperou. De um modo frio – escalonando argumentos e aspirando a conclusões tendo como base apenas o raciocínio (i.e., recorrendo ao Logos) – dever-se-ia colocar no centro da análise esta bizarra simetria e o modo como os árbitros (de Chipre e da Holanda, respectivamente) se comportaram e porquê. Mas como não é essa a lógica do discurso do futebol, ficamo-nos pelo tom épico e de panegírico. Como passou a ser moda afirmar nos últimos anos: “É assim”. (confissão final parentética: curiosamente, no meu caso, consigo ser bastante frio na análise dos jogos de selecções, mas vibro com efusão e puro Pathos no futebol de clube sempre que o meu, o inevitável “Glorioso”, entra em cena).