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terça-feira, 19 de setembro de 2006

Mini-entrevistas - 21

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o Miniscente está a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Luís Graça, jornalista/escritor, 43 anos.
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- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Tecnicamente, a blogosfera será o universo dos blogs, o somatório de todos os que existem. Tudo o que lhes diga respeito. Presumo que os sites poderão ainda ser incluídos no universo da blogosfera, num sentido alargado e generoso, até porque são anteriores e permitiam já interactividade.
- Seguiu algum acontecimento nacional ou internacional através de blogues?
Para mim, é fundamental ler os jornais em papel e transporto-os para onde quer que vá ao longo do meu dia. Mas também sigo acontecimentos pelos blogs. Concretamente nos blogs dos amigos. Dou um exemplo: Misantropo Enjaulado, do Paulo Cunha Porto, onde é bastante comentada a actualidade política, cultural ou desportiva. Mas prefiro frequentar blogs das mais variadas proveniências e não os usar como fonte de informação exclusiva no que toca à actualidade. Leio os blogs por questões afectivas e comunicacionais e não em demanda de informação.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Os blogs tiveram um impacto grande na minha vida pessoal. Se os blogs desaparecessem, eu ficava mais "descansado". É que são um terrível vício. "Perco" horas nos blogs. Tendo muitos amigos com blogs, exibo a tendência de me espraiar nas caixas de comentários, num "pingue-pongue" de pergunta/resposta que nos leva a ficar "pregados" ao computador.Por outro lado, não há dúvida de que aprendemos bastante nos blogs. Principalmente a conhecer o Outro, aquele desconhecido que está do outro lado. É um factor comunicacional extraordinário. Através de um blog está-se em todo o lado ao mesmo tempo. Há uma relação muito directa pensamento/palavra/comunicação.Como em tudo, é necessário distinguir o trigo do joio. Muitas pessoas têm blogs por puro exibicionismo e vaidade pessoal, com muito pouco para dizer. Acho perfeitamente supérfluos os blogs que se limitam a fazer actualizações diárias com jogos, uma foto, uma anedota. Esses são pura perda de tempo. O blog terá de ser sempre comunicação, ainda que confessional. Se não possuir uma subjectividade que lhe deverá ser inerente, torna-se um factor de ruído. Um "Playstation" da palavra, um MacDonalds da Net.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Os blogs são a prova mais evidente que o 25 de Abril falhou num capítulo fundamental: a Educação. Porque se a Educação tivesse triunfado, a Liberdade de Expressão seria uma coisa perfeitamente natural nos blogs.
Ora, há muita censura nos blogs. Sei por experiência própria. Já fui vítima disso. Assisti a um debate na livraria Almedina (Atrium Saldanha, Lisboa) e pude constatar como algumas senhoras assumiam um blog como coutada privada, onde as críticas são mal aceites. Achavam perfeitamente natural que se apagasse um comentário, apenas por poder ser "desagradável" ou "má onda".
Falamos de pessoas na casa dos 30 anos. Que deviam compreender as regras da Liberdade de Expressão. Mais curioso: alguns bloggers que têm blogs sobre sexo, com linguagem crua e humorística, são os primeiros a praticar a censura. Exemplo: corrigi de forma divertida uma profusão enorme de erros ortográficos nos comentários. As minhas correcções foram apagadas e recebi um mail a explicar-me que era chato corrigir os erros dos amigos.Repare-se que a minha correcção não pretendia humilhar ninguém.
Mesmo sem censura, há comentários que podem criar um gelo enorme na comunicação. Exemplo: um comentário menos favorável sobre um poema pode ser encarado de forma melodramática pelo seu autor. Há muitas senhoras a publicar poemas de sua autoria na blogosfera. Aprendi que não devemos fazer críticas, ainda que construtivas. Podem compreender que estamos de boa fé, mas ficam sempre muito doridas.
A blogosfera é ainda um espaço em que as pessoas não resistem ao insulto fácil, a coberto do anonimato. Eu penso que devemos deixar o insulto "esvaziar-se". Manter o post no ar e não responder. Não é pela crueza da linguagem que um comentário vai ter muito efeito. Os insultos não passam disso.
Tenho uma experiência recente com um blog meu: Ganda Ordinarice. Prevendo insultos, não pretendendo censurar ninguém, avisei em editorial que podiam insultar à vontade. Sugeri que fossem apenas criativos. E respondo aos amigos através de mail privado. Não na caixa de comentários. Para não "eternizar" diálogos. Por acaso tem havido um número reduzido de comentários, mas eu quis prevenir-me.
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Nos posts de baixo: entrevistas a Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate e Ivone Ferreira. Amanhã: Manuel Pedro Ferreira, Prof. universitário, 47 anos.