Acabei anteontem de ler O Mar do irlandês John Banville. Um bom livro, simples, de narração agilíssima. No entanto, a história evoca excessivamente um protagonista derrotado pelo objecto da sua própria memória. Como se as lembranças que se acamam no romance desarmassem o narrador face ao narrado: uma melancolia filha da desistência e não tanto do brilho ácido de um pranto (à Houellebecq, por exemplo) que saberia bem acompanhar. Seja como for, há poucos livros em que a poética da minúcia e um realismo solto e até mordaz acasalem de modo tão sereno. Mais uma boa leitura de férias. Aconselho-o.
e
p.s. - De ontem para hoje, de um só trago, devorei um romance de 2000 de Milan Kundera que ainda não tinha lido: A Ignorância. É um livro que toca quem repartiu a sua vida por diversos lugares (o leitmotiv põe em jogo dois checos que, depois do fim do comunismo, procuram em vão a mitologia do Nostos, ou seja, da cruel miragem de um regresso dourado).
(14/8)