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sexta-feira, 14 de julho de 2006

III ANIVERSÁRIO: tradição metabloguística

Três anos de Miniscente
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O Miniscente faz amanhã três anos. Para o comemorar, deixo aqui um conjunto de posts de índole metabloguística, escritos entre Julho e Setembro de 2003.
Já nesse tempo, os tons navegavam por aqui:
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“Se para S. Tomás de Aquino a poesia ocupava o "ínfimo lugar entre todas as doutrinas", é caso para dizer que, hoje em dia, os blogues ocupam o íntimo lugar entre todas as rotinas.” (28/09/2003)
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“De que falamos quando falamos com o outro, quando o veículo e a estrada que nos ligam são imateriais? Meta-discurso, dir-se-á. Falamos das linguagens com que e de que somos falados (...)” (15/7/2003segundo post do Miniscente)
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“Discordo do que diz JPP hoje no Público. Geralmente concordo com ele em muitas coisas, mas desta vez não. Pensar o ciberespaço com a mentalidade preservadora e musial que teve a sua origem no pós-Iluminismo moderno é colocar lado a lado o que não pode ser colocado lado a lado. As estruturas descentradas ou policentradas e rizomáticas como são as da rede contemporânea estabelecem uma relação com o par 'efémero - não efémero' que é completamente diferente daquela relação que as redes centradas e delimitadas estabeleciam durante o alvor moderno, i.e., desde o final do século XVIII até às últimas décadas do século xx. Falar de memória e de arquivo em tempo de rede aberta, espontânea e descentrada não é o mesmo que falar de memória e arquivo no tempo em que a fotografia foi ao parlamento francês pela mão de Arago (1839), ou no tempo em que o fotojornalismo invadiu os salões políticos da Alemanha entre guerras. É preciso rever o modo como os metadiscursos abordam o nosso tempo.” (17/7/2003)
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“(…) É essa multiplicidade que faz o ser do blogue, aquele que o enuncia e que, queira-se ou não, é uma pessoa. E, por isso mesmo, a sua indecibilidade, a sua procura, a sua dúvida persistente.” (20/7/2003)
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“Aqui o jogo não é um jogo exposto, é antes um jogo jogado. E se a opinião que surge na blogalização é uma opinião de "mainstream" - pelo que tenho lido, na sua maioria (sobretudo pela reprodução da agenda) -, diga-se que tenta contornar, pelo menos, o ensimesmamento que pulula nos nossos jornais diários e nos sacos pesados de fins-de-semana. Nem que fosse por isso, e pela expansão da subjectividade mais hilariante (que nem sempre se dá bem com o perfil quasi-institucional dos sites e com o que tende para o prefiguradamente correcto dos chats), já esta blogalização exponencial teria valido a pena.” (22/7/2003)
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“Na maior parte dos blogues que vou lendo, existe um desfasamento entre a ciberlógica que é, naturalmente, caracterizada pelo instantanismo e pelo efémero, e, por outro lado, por um certo sentido nem sempre disfarçado de projecção na posteridade. Como se cada palavra escrita aqui, neste jogo-limite de aquários, tivesse o secreto condão de, amanhã, poder ser finalmente escutada e reconhecida. Então, este cibermomento, em que o génio único ditava a suprema alegoria, entraria no reino da eternidade.” (…) “Como se fossem directores de jornalecos de província, no início do século XX, grande parte da rapaziada que dirige e alimenta os seus blogues ainda pensa em tornar-se no Hermes imortal. É evidente que existem mares e mares de excepções. Mas fora deles, muitas vezes encapelados, tudo é igualmente honroso. Fecundo como as cornáceas.” (26/07/2003)
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“É a própria actualidade da rede que convida a semiótica a dialogar insistentemente com a neurobiologia, com a zoologia, com a arquitectura, com o cibermundo e com a artefactualidade digital que está, hoje em dia, a reenquadrar a própria noção de realidade. Creio que muito em breve, a semiótica irá iniciar uma fase completamente nova e inovadora da sua já longa vida.” (10/08/2003)
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“Foi António Damásio quem o disse em O Sentimento de Si (1999): toda a tradição, baseada na filosofia da consciência e que sublinha o importante papel da intencionalidade (Husserl, Sartre, Merleau-Ponty, Lévinas, etc), não é senão o resultado da capacidade de o cérebro em contar histórias. Diz o autor: esse "dizer respeito a", exterior ao cérebro, tem exactamente "como base a tendência natural do cérebro para contar histórias", o que ocorre sempre da "forma mais espontânea possível". Aliás, na discussão que as Luzes empreenderam, no século XVIII, em torno do problema da representação (De David Hume a Kant), já a figura da imaginação surgia como uma entidade decisiva, autónoma e transformadora das interacções entre o representado e o representante. Eis-nos, nos blogues, a continuar a tradição. Retina de retina até à não apoteose final.” (10/08/2003)
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“Um dos aspectos que mais me fascina nos blogues (não tenho a opinião do diabo sobre a dicotomia 'blog - blogue') é o modo como neles se supera a divisão público - privado que, para o bem ou para o mal, é uma das traves mestras do espaço público actual. Do mesmo modo, as ficcionalidades que entram em cena no mundo dos blogues estabelecem relações interessantes e variadas com diversos níveis da realidade, o que faz com que a blogosfera reflicta igualmente uma outra característica da actualidade que se traduz pelo esvair do binarismo rígido e moderno entre real e ficção. Ousando superar a rigidez clássico-moderna que traçava as dicotomias público-privado e real-ficcional, os blogues inserem-se dentro dos mundos possíveis que estão a renovar profundamente o campo comunicacional contemporâneo em que vivemos. Juntemo-los ao cibermundo, às implicações da instantaneidade tecnológica, à aceleração das imagens e à transformação da cultura territorial na cultura global do ser-em-comum.” (26/08/2003)
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“Afinal, fazendo companhia ao Socio(B)logue, o Fumaças decidiu recomeçar a vida outra vez do zero. Eis como cada fim é sempre e já uma metamorfose. O paraíso é um estigma narrativo e o inferno também o é. Mais do que metas de chegada, passe a redundância, ambos são estigmas de narratividade em curso. Assim é também o destino na blogosfera: reatares depois dos patamares. Deriva, errância, feliz flutuação.” (26/09/2003).
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p.s. - Por mera curiosidade, espreitei os links dos blogues de há três anos que agora já não existem. O mais curioso é que a URL do Dicionário do Diabo do Pedro foi estranhamente ocupado por outro blogue, desta feita anglófono e muito muito técnico: "Personal Security Devices".