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“Volta e meia ouço alguma pessoa dizer que anda tão atarefada que já não tem tempo para ler blogues. Há por aqui algo de valorativo, não há? Como os que se convertem mas têm frio para se baptizar (os nossos baptismos são de corpo inteiro - good old imersão bíblica). Das duas vezes que tive a filha internada não deixei de actualizar isto. Ou há seriedade ou não vale a pena brincar. Férias. Provavelmente o único bom motivo para largar os blogues.” (…) “Há dois anos/ Surgia a melhor consequência dos meus actos. Com pouco mais de três quilos. Desde esse dia que se me turvaram as prioridades. Perdi o relativismo moral. Descobri o sentido da vida. Os filhos. Tanto assim que acabo de encomendar outro.”
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Uma das características da comunicabilidade que atravessa os blogues é o modo como o público e o privado se cruzam. As fronteiras esvaem-se muitas vezes. Aliás, o blogue do Tiago Cavaco é singular, eficaz e produtivo nas suas misturas: entre o rock, o culto de uma fascinante família baptista e as súbitas anunciações que parecem respirar uma sintaxe silenciosa (pergunta, resposta, síncope, nitidez). Há tonalidades assim: falam de missões como se existisse uma aurora boreal a pairar sobre a algazarra do palco. Tudo o resto parece em ‘câmara lenta’, admirado de si, mas tão autêntico e cirúrgico que é como se não fosse preciso sequer procurar um tom. A coisa revelar-se-ia no ápice, no tiro certeiro, na encomenda precisa. Como se não existissem illusões e cenografias na retaguarda do texto (na blogosfera, salvo excepções que optam ainda pela marca rígida de outras escritas, a retaguarda do texto – o ‘não dito’ quase asfixiado - invade amiúde o próprio espaço da cena).