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Não direi que a procura expressiva que é óbvia nos blogues (os mais velhos, entre nós, têm pouco mais de três anos de vida) – e que analisei em seis posts anteriores – não seja mais evidente num certo tipo de blogues do que noutros, conforme os temas adoptados. Só que a tipologia dos blogues, a sua tematização, quando existe, não resiste - ao mesmo tempo - a alguma disseminação. Ou seja, é verdade que existem blogues temáticos, mas essa tematização raramente congela ou se estigmatiza na gaveta da especialidade. A tendência é sempre deslocar os limites, invadir o tema alheio e deixar-se invadir pelo dito. Esta abertura, este deslizar que é tão próprio da rede transforma aquilo que tenho caracterizado como sendo o “tom” numa prática de sucessiva moldagem. A palavra nunca está conforme ao acto, antes se adapta, maleabiliza-se, ou reencontra-se tão-só, para depois reinventar caminhos. Esta é mesmo uma terra de imponderáveis e de fértil nomadismo: um blogue de vocação literária nunca o é (também fala e bem do sistema de segurança social dos EUA), um blogue desportivo nunca o é (também fala e bem, ainda que parodicamente, do pós-moderno e de Derrida), um blogue de publicidade nunca o é (também fala e bem de “algo de interessante” ou do “ritmo de escrita” do próprio blogue), um blogue social nunca o é (também fala e bem da imensidão das “galáxias”), um blogue sobre música nunca o é (também fala e bem sobre detenções, perseguições e desaparecidos), um blogue sobre política nunca o é (também fala e bem do campo dos média), um blogue sobre sondagens nunca o é (também fala e bem sobre a preservação da “Tapada das Necessidades”), um blogue sobre retórica nunca o é (também fala e bem acerca do “assalto” ao jornal “24 horas”) e mesmo os blogues que se dedicam aos média, ao jornalismo e à televisão – campos que, hoje em dia, atravessam todas as áreas - nunca o são completamente (também falam e bem sobre “cravos generalistas” ou sobre o “cansaço” da governação). O tom dos blogues também passa pelo modo como estas derivas estão a repor as perspectivas temáticas no quadro de uma nova pluralidade.
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P.S. - 1 - É evidente que também existem excepções que confirmam a regra.
P.S. - 2 - Será ainda mais interessante, porventura, analisar o tipo de miscelânea que os blogues generalistas (a larga maior parte) levam a cabo. Voltarei a esta temática aliciante. Até porque há semelhanças na blogosfera com a lógica de alguns manuscritos medievais e algo posteriores - lembro os que estudei, originários dos mouriscos do levante ibérico já do século XVI - em que a sintaxe dos temas é verdadeiramente alucinante e imprevisível.