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quarta-feira, 5 de abril de 2006

Sentidos e verdades

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A razão, no alvor moderno, não foi capaz de enunciar-se de modo autónomo. Ao invés, preferiu entrar em cena contrapondo-se a algo que baptizou como sendo caduco e ultrapassado. Esse choque, geralmente caracterizado como o choque entre “mito” e “logos”, terá sido mesmo real? Hans Blumenberg sempre torceu o nariz a essa pergunta e preferiu, por isso mesmo, compreender o mito como algo que teria sempre sobrevivido entre nós. Longe de hibernar numa qualquer origem remota, para o prazer de antropólogos e de outras abelhas, o mito ter-se-ia antes sedimentado na galáxia da razão e, ao sabor romântico e nietzschiano, ter-nos-ia ainda conduzido à tentação do juízo estético que supera – ou contorna – uma definição precisa, analítica e estanque de valores. Cada vez mais, à medida que o tempo passa e à medida que a memória dessas leituras se esvai, sou levado a pensar que o homem tinha afinal toda a razão. Mandei vir, hoje mesmo via Amazon, a tradução inglesa de Arbeit am Mythos e de Die Lesbarkeit der Welt, entretanto perdidos no trajecto nómada das minhas estantes.