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quinta-feira, 27 de abril de 2006

Ainda a nova Berlim

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Berlim é um exemplo claro do que significa convocar a arquitectura e o design para tentar salvar as feridas que a montagem da história, em diferentes tempos, lhe conferiu. Pode dizer-se que a arte (após meados do século XVIII) sempre reivindicou uma ideia de criação que apostava numa oposição original entre mito e logos, assumindo claramente o plano daquele contra a perigosa racionalidade deste último. Por seu lado, o design e a arquitectura seriam a prova de que tal oposição nunca de facto existiu, sendo as suas formas o ponto de encontro entre o mito e o logos (da criação pura com a eficácia pragmática). Mais concretamente: o discurso sobre a arte, nos últimos dois séculos e meio, desenvolveu uma ideia de criação que se baseou no sortilégio e na imanência, o que aconteceu com maior enfoque na tendência “expressiva” (expressionismo, informalismo, body art, etc.), na tendência “onírica” (surrealismo, etc.) e na tendência “reducionista” (arte minimal, arte conceptual, etc.) e com menor enfoque na tendência “formativa” (cubismo, stijl, op art, etc.), na tendência “social”, (realismos expressivos: algum Picasso, alguma pop art, etc.) e na tendência de “arte útil” (bauhaus, construtivismo de Malevich, etc.). Já a história do design e da arquitectura teria resultado de uma ideia de criação que acaba por fundir a dimensão da “poeisis” criativa que a arte sempre reivindicou com a racionalidade e a eficácia aplicadas à expressão da cultura material. Ao reunir os dois termos que se reunem na invenção moderna - mito e logos -, o design e a arquitectura seriam não apenas a consecução plena de uma profecia metafísica (de origem romântica), mas também a consecução de uma conjectura lógica e moderna (de carácter racional). É por isso, talvez, que o singular diagnóstico berlinense está a ser tratado hoje em dia, com mil cuidados, pela dupla design-arquitectura.
Resta saber se a cura não estará enferma de outros males.
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