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terça-feira, 21 de março de 2006

"Complexity and color"

e
Que mulher não gostaria de ter sido Cleópatra, nem que fosse por um dia? Que homem não gostaria de ter sido Pulo, nem que fosse por um dia?
Esta Cleópatra é um tanto diferente da que Hollyhood encenou no início dos anos sessenta (lembro-me da Elizabeth Taylor de 1963): misto de flor luarenta e branca tão untada de divino quanto da carne que a sonhou.
No final do óptimo episódio de ontem – já o oitavo, “Time goes by so slowly” –, Júlio César ostenta o bebé aos soldados e o afectado grito de Pulo apenas é dissuadido pelo olhar prudente de Voreno.
De resto, as cabeças espetadas no grande palácio egípcio valeriam pelo Al-Ahram de hoje. À iminência das notícias reagiriam então as lanças e os uivos nocturnos que a montagem alternada aproximou dos amores de Servilia e Octavia, ou dos mais puros lençóis de seda: a César o que é de César.
Em Roma, Marco António continua a ser um James Dean mal disposto que falta às aulas do seu liceu. Na cena, não há carros dos fifties, mas existe um desmedido Senado ainda a sós, à procura de sentido, ou, quem sabe, se apenas à espera do seu dramático desígnio ("O corpo é que paga", praguejaria Cícero entre lábios).
A cor do Mediterrâneo tem a imprecisão com que se augura a eternidade, mas em Roma ela transforma-se em loba terrena e chã, apesar da lei, dos novos estóicos que calcorreiam a leveza dos seus mamilos e da memória – ainda que involuntária - da República. A César o que é de César.
Este texto começou com uma picada de “gender” e termina agora com uma picadela mais ou menos mediática: os senhores que tiveram a insanidade de dar corpo a esta série deviam ser obrigados a continuá-la até aos nossos dias. Pesquisassem, trabalhassem arduamente, mas fizessem-no! E nós estaríamos aqui, como Cleópatra com o seu cachimbo, apenas para o prazer, para o sumo deleite e para o Júbilo. Qb.