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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Está-se mesmo a ver

e
Brokeback Mountain terá a sua frescura, não deixa de ser sonante e foi, talvez por isso mesmo, objecto de oito nomeações para óscar. O gender está na moda e nutre os seus gostos e gestos em todas as direcções. Já Alexandre-o-Magno se havia revelado de modo a não fazer lembrar o invisível epónimo da famosa Sibila Tiburtina.
Há coisas que são assim, não batem muito certo, ou se batem, há que deixar crescer-lhe as tranças. Transformam-se em hábito e criam tradição com imensa sagacidade, tal como acontece com os penteados que deambulam hoje em dia pelos relvados do futebol global. E um tipo, sem mais nem menos, ter o arrojo de falar acerca do fenómeno, ou dá artralgia, ou é clara e notória afronta (ontem, abri a "SIC-Mulheres"e lá estavam quatro senhoras, entre elas a escritora Inês Pedrosa, a discutir "o medo" que os homens têm das "mulheres inteligentes". A certa altura, uma ex-aluna minha, Ana Marques, não se fez rogada e disse que isso dos homens anda "difícil": ou são realmente tementes, ou são apaneleirados - a expressão era outra, claro).
Seja como for, os cowboys e toda a história épica do Western sempre me pareceram coisas a cheirar a virilidade e àquele sexo selvagem que gerava famílias muito extensas entre os povoadores do novo Oeste. O grande Ford e, muito antes, no alvor do cinema, Thomas Ince, William Hart, Tom Mix ou Ken Maynard não atraiçoariam, nem nunca atraiçoaram esse desígnio másculo e varonil. Eram, sem o saber, cinematograficamente incorrectos.
Hoje, depois de trilhados ínvios caminhos, chegámos ao novo tempo da compreensão que decidiu colocar lado a lado as quotas e os partidos. No mundo dos óscares e de outros prémios, esse novo tempo também ganhou renovado fôlego. E é por isso que os prémios começaram a chover sobre a matéria do gender, apenas porque se trata de matéria do gender. Um prémio num filme de Almodóvar é uma coisa mais do que normal, já se vê. Mas tanto prémio junto a vaticinar para este filme de Ang Lee uma quase redentora genialidade é coisa já mais enigmática, convenhamos.