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Há duas atitudes para interpretar a cultura, desde que ela se tornou em objecto reconhecível (Herder): ou entendê-la como uma coisa tão natural como a transpiração nos dias de verão, ou entendê-la como uma mera construção.
Poderão existir marcas de intencionalidade que atravessem quer a construção (chamemos-lhe assim) ‘natural’ - a gruta ou a ruína -, quer a construção ‘arquitectada’. No entanto, não há arquitectura, por mais tradicional que seja, que não dependa de circunstâncias, de acasos, de equívocos, de intervenções singularizantes e sobretudo de regras razoavelmente estritas que envolvem quem a habita e significa.
O mundo das actividades hoje em dia consideradas “culturais” entende-se a si próprio a partir de um domínio tácito (como se reflectisse, no seu agir, uma natureza eminentemente estável) e, portanto, próximo do “natural”. Um grande “homem de cultura” corresponde, nesta medida, a uma referência quase platónica que escalou até à luz, ou até à santidade maior da “Ideia”.
Num espaço público cada dia mais acentrado, cada dia mais distante da relação clássica entre auditórios e emissores, cada vez mais baseado num fluxo omnipolitano de imagens em rede, que lugar existirá ainda para uma tal efígie olímpica?
De facto, existe, como se viu (ver post actualizado sobre o assunto). Mas não existe como já existiu. E, melhor ainda, acontece que deixará de existir como parece ter sempre existido. Ilusão óbvia, mas sempre ofuscada e diluída por quem legitima o “mundo da cultura” – de modo pretensamente natural -, tal como as abelhas legitimam o seu próprio mel.
Há duas atitudes para interpretar a cultura, desde que ela se tornou em objecto reconhecível (Herder): ou entendê-la como uma coisa tão natural como a transpiração nos dias de verão, ou entendê-la como uma mera construção.
Poderão existir marcas de intencionalidade que atravessem quer a construção (chamemos-lhe assim) ‘natural’ - a gruta ou a ruína -, quer a construção ‘arquitectada’. No entanto, não há arquitectura, por mais tradicional que seja, que não dependa de circunstâncias, de acasos, de equívocos, de intervenções singularizantes e sobretudo de regras razoavelmente estritas que envolvem quem a habita e significa.
O mundo das actividades hoje em dia consideradas “culturais” entende-se a si próprio a partir de um domínio tácito (como se reflectisse, no seu agir, uma natureza eminentemente estável) e, portanto, próximo do “natural”. Um grande “homem de cultura” corresponde, nesta medida, a uma referência quase platónica que escalou até à luz, ou até à santidade maior da “Ideia”.
Num espaço público cada dia mais acentrado, cada dia mais distante da relação clássica entre auditórios e emissores, cada vez mais baseado num fluxo omnipolitano de imagens em rede, que lugar existirá ainda para uma tal efígie olímpica?
De facto, existe, como se viu (ver post actualizado sobre o assunto). Mas não existe como já existiu. E, melhor ainda, acontece que deixará de existir como parece ter sempre existido. Ilusão óbvia, mas sempre ofuscada e diluída por quem legitima o “mundo da cultura” – de modo pretensamente natural -, tal como as abelhas legitimam o seu próprio mel.