A psicanálise da literatura portuguesa reapareceu como tema na blogosfera. O holofone centrou-se subitamente na “foleirice” do tratamento sexual que é próprio da “generalidade” dos escritores portugueses. Mas há graciosas excepções: e diga-se que, para além do Al berto, do Luís Pacheco, ou do Mello e Castro dos “Caralhamas e Conemas”, entre muitos outros, é de aproveitar a gala para relembrar o soberbo capítulo 17 do, às vezes esquecido, Cavaleiro Andante do Almeida Faria. No fundo, o “cu” e o “rabo” sempre andaram de mãos dadas no dizer literário, sendo o primeiro inevitável motivo de folia e figurão e o segundo uma espécie enevoada de nenúfar poético. Sempre que este tema áureo escala ao tampo da mesa – Al berto relembrava-o constantemente, enquanto Lobo Antunes sempre dele fez tábua rasa –, é realmente de estranhar o leque de subtís matizes que conduzem a literatura portuguesa a não inscrever no seu sacralizado intertexo palavras como “cona”, “caralho” ou “foder” (lexemas normalíssimos, se e quando precisos, num Rubem Fonseca ou numa Patrícia Melo - mas isso é outra história). Contudo, os próprios psicanalistas também não as escrevem na sua prosa, muitas vezes bem mais carregada de apetite de risível do que pelo secreto fio da análise. Geralmente, limitam-se a atirar para a exposta arena do ridículo alguns extractos de textos, cujas bainhas facilmente reflectem o gáudio da paródia. Esta modalidade de tratamento dos traumas portugueses – facilmente contaminável num meio como a blogosfera - é, em tudo, homóloga à do tratamento púdico do sexo que é apanágio da maioria dos escritores portugueses (e que nem um título, aparentemente maldito, como O Amor é fodido chega para disfarçar).