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quarta-feira, 22 de junho de 2005

Mesmo em dia de lua cheia

Dedico este belo poema de Ana Luísa Amaral ao amigo que hoje confessou aquela dor oculta. Fiquemo-nos por aqui. A vida continuará e os olhos, apesar da dor, vão agora tomar atenção à pulsação do poema:

“Última Imagem”

“São projectos de sonho atravessados,
desafiando nascimento e morte:
projectos limitados a não ser.
Roubados do novelo,
da primeira função de bastidor,
pouca coisa lhes resta:
meia dúzia de esboços
com que pintaram sortes.
Que o novelo foi todo tricotado:
tornou-se camisola em tons de mel
sulcada por brilhantes,
e em labaredas calmas ressuscita:
a esfinge em fuso exacto,
o leão em rugido de rouquidão
diferente.
"A luz", exclamou, por fim,
deixando a quem vier:
varanda

- e algum
real.”

(Imagens, Campo das Letras, Porto, 2000)