As recentes comemorações da vitória sobre o nazismo levantaram véus há algum tempo suspensos sobre silhuetas incómodas. Durante a parada militar da Praça Vermelha, o que ainda sobra dos comunistas e dos cabeças rapadas de extrema-direita manifestou-se solidariamente e em local contíguo. Neste cenário de partilhas aparentemente bizarras, Estaline aparece como tirano e assassino de milhões e milhões de seres humanos, tantas e tantas vezes ilibado pelas democracias do ocidente, sobretudo devido ao terrível e inimaginável fantasma do nazismo. A queda do totalitarismo comunista, a partir de 1989, não conseguiu depurar esta herança pesada e muitas vezes tabu onde o sentido é sempre um percurso estranhamente delicado. Poucas vezes, o ocidente comemorativo, colegial e democrático teve a coragem de dizer, olhos nos olhos, que o comunismo foi e é um ardil monstruoso, ditatorial e inimigo da liberdade.
Em Portugal, a categoria da “esquerda” ainda é hoje utilizada na linguagem dos comunistas para se referir a um espaço “social” que nada, mas absolutamente nada tem em comum com outros pares. A única coisa que poderá unir os comunistas a outros sectores democráticos por eles incluídos numa imaginária “esquerda” é alguma história comum - e sempre bastante conjuntural, sectária e expurgatória -, vivida até há 31 anos no nosso país. O mais grave, em minha opinião, é o apelo pragmático a essa categoria (que apenas existe, tal como existe, na linguagem dos comunistas) por parte de figuras e instâncias da esquerda democrática. Mas isso é outra história. Um dia voltarei a ela.
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quarta-feira, 11 de maio de 2005
Tabu comunista