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domingo, 3 de abril de 2005

UM AMOR CATALÃO
Folhetim à moda clássica
TRIGÉSIMO EPISÓDIO
(O rapto de Albe)

No último fim-de-semana de Janeiro, Albe entrou no comboio em Austerlitz. Esperavam-na quase trinta horas de viagem numa primeira classe bastante povoada.
Talvez por cansaço acumulado, Albe fechou os olhos e dormiu durante algumas horas. E os sonhos falaram mais alto nessa longa travessia que a levou em quase levitação até ás terras girondinas.
E nos sonhos apareceu uma luz muito forte azulada, depois talvez esbranquiçada no meio da qual Albe se perdia, encandeada, com um saco de violinos às costas. Nada mais restava do que fugir, perseguida que era por milhares de albatrozes do mar alto que tentavam picar-lhe a cabeça. De repente, todas as figuras à sua volta se esvaíam e nada mais se via ou sentia, a não ser a voz acerada à Pompidou do Dr. Lambert que se propagava ouvidos dentro como se fosse um terrível ralo gigante. Foi entre estes rugidos que acordou já a sul de Bordéus.
No transbordo de Irún, Albe aproveitou para sair da estação e foi apanhar ar. Nem dois minutos tinham passado, quando sentiu um homem que a agarrava e, num relance, a introduziu no banco de trás de um seat esverdeado. À frente, um condutor com pronúncia mais italiana do que espanhola e, no lugar do morto, uma mulher vestida com um casaco de pele muito negra a rir, a rir, a rir.
O carro subiu rapidamente pelas montanhas e Albe, sem reacção, sentiu no nariz e nos lábios contraídos um algodão impregnado com um cheiro muito tóxico. Não se lembra de mais nada.

(No próximo episódio, agora que o folhetim caminha rapidamente para o seu fim, Edmundo perderá o leme. De vez?)

Continua